DNA de cuíca pode ajudar na cura do câncer de pele
Esta é a primeira vez que o DNA de um marsupial tem sua seqüência desvendada. A pesquisa foi publicada nas revistas científicas Nature e Genome Research.
O pequeno marsupial é usado em laboratórios como um "modelo" experimental para o estudo das causas de doenças humanas, como câncer e problemas neurológicos.
O estudo é parte de um grande projeto para comparar a bioquímica de uma série de animais, como a do Homo sapiens, para entender melhor como o corpo humano é construído e mantido e como todas as espécies se diferenciaram.
"A idéia é obter a informação da seqüência de genoma de organismos que são parentes apropriadamente distantes de nós na árvore da vida", disse Adam Felsenfeld, do Instituto Nacional de Pesquisa em Genoma dos Estados Unidos.
"Por exemplo, ao enfileirar as seqüências é possível detectar regiões do genoma que não mudaram, estão conservadas (...) ou então que estão mudando rapidamente", acrescentou.
Diferente
O trabalho para decifrar o genoma do marsupial foi liderado pelo Instituto Broad do MIT e Harvard em Cambridge, Massachusetts.
O marsupial - cujo nome científico é Monodelphis domestica - vive em árvores da América do Sul, é pequeno e de pêlo cinzento. A facilidade de reprodução, entre outros fatores, torna o pequeno marsupial a criatura predominante em estudos de laboratório do mundo todo.
Mamíferos marsupiais (cangurus etc.) têm relações próximas com mamíferos de placenta (humanos, camundongos etc.), mas nem tanto. Marsupiais têm entre 18 mil e 20 mil genes, humanos têm entre 20 mil e 25 mil.
O último ancestral comum dos dois tem cerca de 180 milhões de anos. E os marsupiais mantêm seus filhotes do lado de fora do corpo, às vezes em uma bolsa.
"Este marsupial é um pouco diferente, pois os filhotes não são mantidos em uma bolsa, eles apenas ficam pendurados nos mamilos do animal", disse Jenny Graves da Universidade Nacional da Austrália.
Doenças
Os pequenos marsupiais são os únicos mamíferos - além dos seres humanos - a desenvolverem o melanoma, a forma mais agressiva de câncer de pele, apenas como resultado à exposição à luz ultravioleta.
Como o câncer é causado por danos ao DNA, o genoma vai aumentar a utilidade do marsupial como um organismo de laboratório para desenvolvimento de novos tratamentos.
Os recém-nascidos do marsupial não têm sistema imunológico e, ainda assim, sobrevivem em um ambiente aberto, fora da mãe. Observando os genes, os cientistas poderão decifrar a razão de tanta resistência.
A pesquisa também mostrou que os recém-nascidos do marsupial são capazes de fazer crescer novamente a medula espinhal, mesmo se esta for cortada.
"O genoma não nos disse exatamente como eles fazem isso, mas nos fornece um projeto para mais estudos e para sermos capazes de aplicar alguns destes conhecimentos aos humanos", disse Chris Gunter, editor de biologia da Nature.
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