O Papa e a vida merecem respeito

A vinda do Papa Bento XVI ao Brasil tem suscitado comentários variados por parte de religiosos, da imprensa, articulistas e políticos. Chefe Político do Estado do Vaticano e, portanto, líder maior da igreja católica apostólica romana, o papa, ao que tudo indica, com sua visita adredemente programada, pretende reconquistar o espaço que sua igreja vem perdendo em nosso país, principalmente pela infinidade de novas seitas e pela facilidade de se constituir uma associação religiosa.

Ocorre que a autoridade maior da igreja católica vem sendo alvejado de críticas, muitas delas com requintes de acidez, por conta de posicionamentos adotados pela organização religiosa que ele representa em todo o mundo. Nestes dias, “chovem” apontamentos maldosos e maliciosos, que buscam atingir os ideais da igreja católica, mas que acabam afrontando o ser humano que assumiu a missão de ser o papa. Mas não deixou de ser um filho de um Deus único, segundo a crença de todos os cristãos. Sendo assim, vale trazer à reflexão a seguinte passagem do Evangelho: “Mas se tendes amarga inveja e sentimento faccioso, em vosso coração, não vos glorieis nem mintais contra a verdade” (Tiago, 3:14.).

Nós espíritas, discordamos de uma série de medidas, dogmas e posturas da igreja católica. Se assim não fosse, seríamos católicos, e não espíritas. E tal discordância se refere aos dias atuais, pois, reencarnacionsitas que somos, sabemos que, por certo, já fomos católicos no passado, nesta ou noutra existência. Porém, a igreja católica e o papa, assim como todas as demais filosofias de vida e religiões, seus líderes ou apenas adeptos, merecem respeito e a sincera aproximação, com arrimo no mandamento maior, que é o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a se ama a si mesmo.

De mais a mais, defensores da vida em todas as suas formas, também não podemos concordar com a legalização do aborto, salvo na hipótese de a gestante correr risco irreparável. É claro que os motivos desta atitude dos espíritas não é a mesma que a defendida pela igreja católica, mas, ainda que por ventura advogássemos pela legalização da matança de seres humanos que vivem no ventre de suas mães, jamais nos seria lícito agredir quem pensa de modo diverso.

Na visão espírita, o aborto é um crime, certamente o pior de todos, porque a vítima não tem meios para exercer a legítima defesa, consagrada no Código Penal brasileiro. A vida tem como finalidade principal propiciar ao Espírito eterno que somos (estamos somente num corpo) a necessária evolução moral e intelectual, por meio das provas que a vida nos enseja, sendo a reencarnação o meio pelo qual a Justiça Divina concede-nos a possibilidade de, em novas existências, realizar aquilo que não pôde ser feito ou concluído noutras.

Segundo a doutrina espírita, a ligação do Espírito à matéria que irá formar seu corpo físico se dá desde a concepção, logo, o aborto eugênico é um erro porque o corpo, deficiente ou não, é sempre valioso instrumento para a evolução do Espírito. E mesmo em caso de gestação decorrente de estupro, pensamos que o aborto não é uma medida justa, porquanto, o Espírito reencarnante é inocente quanto ao ato criminoso e não merece ser vítima de outro crime. A criança, bebê ou feto é, espiritualmente, um ser imortal, filho de Deus, ao passo que o estuprador apenas contribuiu para a formação de seu corpo somático.

No tocante às dificuldades financeiras que possam impedir a família de propiciar à criança a devida educação e saúde, existe a possibilidade de oferecer o rebento à adoção, levando-se em conta a existência de muitas famílias abastadas economicamente dispostas a acolher um novo ser em seu seio, diante dos altos índices de infertilidade gerados, outrossim, pelas doenças sociais ou por abortamentos cometidos no pretérito. Isso torna oportuno considerar os prejuízos psicológicos que o aborto acarreta à gestante, sem detalharmos, ainda, os danos espirituais.

Todavia, ainda pela ótica espírita-cristã, a qualquer pessoa que tenha precipitada e equivocadamente praticado o aborto (ou induzido outrem a fazê-lo) é facultado o arrependimento e a reparação, fazendo o bem que estiver ao seu alcance, visto que, conforme Jesus: “um ato de amor cobre uma multidão de pecados”.

Assim sendo, os espíritas em geral, obreiros da vida e do bem, manifestamos nosso contentamento ao ver nossos irmãos católicos felizes com a chegada ao Brasil de seu líder maior, augurando que sua passagem traga mais paz, amor e união entre pessoas de todas as religiões, ou mesmo dentre aqueles que não adotam religião alguma, tendo em vista que a religião mais importante é a própria conduta do ser humano.

(artigo dedicado às mães e ao Dep. Fed. Luiz Bassuma – PT/BA, ameaçado de expulsão do partido político por defender a vida, ousando discordar do Min. da Saúde, que é abortista)