Bento 16 tenta manter aproximação com a juventude
O pontífice deu continuidade às jornadas mundiais da juventude, megaeventos criados em 1985 pelo papa polonês como uma nova evangelização, um instrumento para fortalecer os jovens católicos.
Segundo o vaticanista Ignazio Ingrao, a juventude continua muito importante para o Vaticano, mas Bento 16 encontrou uma maneira própria de se comunicar com os jovens.
Na sua avaliação, a mensagem do papa atual mostra continuidade com o magistério de João Paulo 2º, mas por meio de relações mais pessoais, em vez de contatos com as grandes massas.
“Seu discurso, no entanto, é muito mais exigente, principalmente, do ponto de vista moral”, afirma Ingrao. “O papa está tentando construir uma relação nova, diferente com a juventude. Ele diz coisas difíceis, mas usa palavras simples com grande poder comunicativo.”
Muitos jovens italianos dizem ainda sentir falta de João Paulo 2º e consideram que os dois anos de pontificado de Bento 16 insuficientes para avaliar seu relacionamento com a juventude.
“Eu gosto muito dele como papa”, afirma a estudante Francesca di Pietro, de 18 anos. “Mas preferia o anterior, porque estava mais próximo dos jovens.”
Simone Raia, operário de 21 anos, reclama que Bento 16 é um pouco frio, mas aprova seu pontificado.
“Talvez, por ser alemão, ele não seja tão carismático", diz. “Eu estava acostumado com o outro papa, mas acho que ele também poderá se relacionar muito bem com os jovens.”
O consultor do Vaticano e delegado da Pastoral Juvenil de Roma, Cesare Bissoli, lembra que Bento 16 teve sua primeira prova frente à juventude quatro meses depois de ser eleito papa durante a jornada de Colônia (Alemanha), sua primeira viagem ao exterior após assumir o trono de São Pedro.
“O encontro foi feito com alguma incerteza, porque muitos jovens compareceram em nome da memória de João Paulo 2º”, lembrou.
“Mas, apesar de ser mais sóbrio e não ter o mesmo carisma, Bento 16 não decepcionou. Quando fala aos jovens, ele é encorajante.”
Adolescentes ausentes
Segundo Bissoli, o comando da Igreja Católica não tem um documento dedicado aos jovens. Na Europa e, especialmente, na Itália, de acordo com ele, os adolescentes entre 14 e 19 anos estão ausentes da Igreja.
“Isso é um grande problema. Aqui na Europa, os jovens têm certa desconfiança da Igreja”, disse o consultor. “Precisamos sair das paróquias e encontrar uma maneira de melhor dialogar com eles.”
Muitos jovens italianos acusam a Igreja de não ter reconhecido as mudanças de comportamento da sociedade moderna, levando-os a questionar as visões tradicionais sobre moralidade.
Talvez por isso, o Vaticano sabe que terá dificuldades para convencer a juventude a adotar sua posição sobre sexualidade e contra o uso da camisinha.
Mas grupos como os chamados "papaboys" trabalham para dar uma cara mais moderna à Igreja Católica, defendendo a mensagem de Cristo de uma maneira mais alegre e divertida.
“Os papaboys são jovens do terceiro milênio, que sabem o que é pecado, correm riscos e erram”, disse Daniele Venturi, presidente da associação papaboys, que reúne cerca de 10 mil jovens na Itália, Alemanha e Polônia.
“Somos cristãos e vivemos no dia-a-dia as mesmas dúvidas e dificuldades de todos os jovens. Seguimos João Paulo 2º e estamos com Bento 16. Sabemos ser bons pecadores e, ao mesmo tempo, bons rapazes.”
Jovens brasileiros
Numa visita ao Vaticano, o arcebispo de Maringá, Anuar Battisti, revelou que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está lançando um documento sobre evangelização da juventude brasileira.
“O jovem gosta de novidades, de ser desafiado na proposta evangélica. A Igreja está preocupada com isso”, disse dom Anuar, que também é presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada da CNBB. “Nesse documento, vamos apresentar aos jovens o verdadeiro rosto de Cristo e do Evangelho.”
Durante a sua visita ao Brasil, o papa se reunirá com 30 mil jovens brasileiros no dia 10, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo e receberá formalmente o pedido para que a Jornada Mundial da Juventude de 2011 seja realizada no Brasil.
Conforme o vaticanista Ignazio Ingrao, esse encontro será uma prova interessante para o papa, que estará próximo de uma realidade muito diferente da européia.
Bento 16, de acordo com Ingrao, deverá falar de temas sociais, de justiça, do crescimento das seitas religiosas, assuntos que até agora pouco apareceram em seus discursos nos dois anos de pontificado.
Ele deverá também fazer um chamado aos jovens brasileiros a retornar ao que o Vaticano considera a autenticidade da mensagem do Evangelho, da mensagem cristã católica.
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