Para Palocci, real forte reflete ação antecipada do mercado
Em inglês, literalmente grau de investimento. Na prática: recomendação de investimento na economia brasileira feita por agências americanas que medem o risco de se colocar o dinheiro em um país.
Claro que é uma boa notícia a recomendação de investir no Brasil porque sua economia ficou mais sólida como um todo. No entanto, ela também traz reflexos negativos para alguns setores da economia, sobretudo o exportador.
Com um real mais valorizado, os produtos brasileiros tendem a ficar menos competitivos no exterior na comparação com os produtos de outros países. Isso causa, por exemplo, fechamento de postos de trabalho em algumas indústrias.
Na opinião de Palocci, o mercado já está antecipando o efeito do "investment grade". Isso contribui para desvalorizar o dólar, que hoje anda pouco acima dos R$ 2.
O mercado ganha dinheiro quando antecipa tendências. Claro que a oficialização do "investment grade", prevista para acontecer na virada deste para o próximo ano, será outro momento importante a influenciar o câmbio. Mas o ex-ministro avalia que o efeito principal já está em curso.
Valor do câmbio
Palocci não se arrisca a prever um piso para o câmbio. Indagado se o dólar pode chegar a R$ 1,80, ele disse que havia possibilidade, sim. No entanto, não acredita que, se acontecer, seja um patamar no qual a moeda brasileira se estabilizará.
O BC (Banco Central) tem tentado segurar a cotação do dólar. Já comprou até abril US$ 33,9 bilhões. No ano passado todo, o BC adquiriu US$ 34,3 bilhões.
Apesar das negativas oficiais, essa ação é motivada por uma avaliação técnica (aumento de reservas e tentativa de evitar desvalorização ainda maior do dólar) e uma pressão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula deu ordem ao BC para não deixar o real se valorizar tão livremente quando poderia num regime de câmbio flutuante, caso este fosse seguido cegamente. Daí o nosso câmbio flutuante não tão livre assim.
Livre
Além de considerar que o ministro José Gomes Temporão (Saúde) apresentou sólida argumentação técnica para a quebra de patentes de remédio contra a Aids, Lula considerou ainda o efeito político da decisão de autorizar o licenciamento compulsório do remédito Efavirenz (laboratório Merck).
Após um primeiro mandato no qual fez tudo para agradar ao mercado, o presidente tem, nas palavras de um ministro, "gordura para queimar". E, assim, adotar medidas que, no primeiro governo, poderiam minar sua credibilidade externa ou transmitir sinal de irresponsabilidade econômica. É um claro sinal de disposição de alguma inflexão à esquerda em certas áreas.
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