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Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Sábado - 05 de Maio de 2007 às 20:29
Por: Maurício Savarese

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A visita do papa Bento 16 ao Brasil, além de tentar deter a perda de fiéis no país, pretende ampliar o rebanho em outros países em desenvolvimento e usar o exemplo brasileiro no diálogo inter-religioso, afirmaram teólogos e religiosos.

Oficialmente, o pontífice virá ao Brasil entre 9 e 13 de maio para abrir a 5a Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida, interior paulista, e para disseminar os preceitos da Igreja Católica.

Especialistas crêem, no entanto, que o Vaticano não busca apenas revigorar a religião no país, que há cerca de 20 anos perde fiéis para igrejas evangélicas pentecostais. O Brasil serviria ao mundo também como modelo de tolerância religiosa.

"A visita amplia o olhar do papa da Europa para a América Latina e certamente indica interesse para a África e o Oriente, onde a pobreza também é grande e nos preocupa", disse à Reuters o bispo auxiliar de São Paulo dom Pedro Luiz Stringhini.

"Já a possibilidade do diálogo inter-religioso atrai não apenas os católicos, mas também os que seguem outras religiões. É necessidade mundial, que o Brasil já resolve bem", afirmou.

Para Eulálio Figueira, professor da PUC-SP e especialista em catolicismo europeu, o número de fiéis e uma forte presença no Brasil são estratégicos porque o país é ponta de lança no debate com outras religiões.

"Se em Portugal é impensável a Igreja dizer algo sobre aborto e as pessoas seguirem, aqui é o contrário. Isso dá um peso político grande junto ao Vaticano, algo que agora começa a ser visto", definiu.

BENTO E A MASSA

Ao contrário do antecessor João Paulo 2o, que fez mais de cem visitas a países dos cinco continentes em quase 27 anos como Bispo de Roma, Bento 16 deixou a Europa por apenas um dia desde que assumiu o trono de São Pedro, em 2005.

Em novembro de 2006, ele passou menos de um dia na parte asiática da Turquia, entre Ancara e Éfeso, para aliviar tensões após declarações que deu sobre o Islã. Alemães, poloneses e espanhóis também receberam a visita do octogenário pontífice.

Mas nenhum desses povos deu a Bento 16 uma recepção tão calorosa quanto a que ele deverá viver no Brasil, segundo o professor Fernando Altemeyer Júnior, da PUC-SP. Para ele, Ratzinger sairá outro depois da sua primeira passagem pelo país como papa, após duas visitas ainda como cardeal.

"Aconteceu o mesmo com o antecessor dele. O contato com a nossa realidade muda um papa. Bento 16 nunca esteve diante do povão como estará nessa viagem. E, apesar de algumas pessoas acharem que ele pode não se comunicar bem nessa condição, penso que dará certo. Ele tem a sua finesse", disse Altemeyer.

"Talvez o público não seja tão grande, porque ele não tem como atrair o mesmo ibope de um papa que ficou quase 30 anos no cargo. Mas ele tem seus meios. Falará um monte ao povo, que vai acompanhá-lo aos montes."

Mais de um milhão de pessoas são esperadas para a missa de canonização do frei Galvão no Campo de Marte em São Paulo, no dia 11 de maio. Um número que pode ajudar a animar uma religião que está perdendo espaço no Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os católicos eram 83,8 por cento da população em 1991 e passaram a 73,9 por cento nove anos mais tarde. Os evangélicos, que representavam 9,05 por cento dos brasileiros no começo da década de 1990, dez anos depois eram 15,45 por cento.

O coordenador da Campanha da Fraternidade e arcebispo de Belém, dom João Orani Tempesta, admite que a queda no número de católicos no Brasil pesou para a visita, mas considera que a preocupação de Bento 16 é mais global do que regional.

"O papa tem os olhos voltados para o mundo inteiro. Ele fez questão de vir a nós, mudou o local do encontro de Roma para Aparecida conforme tinha decidido João Paulo 2o, que teria o Celam mais perto por estar doente. Bento 16 quis dar essa oportunidade para a América ter uma celebração. Mas mesmo aqui ele olha para todos em todos os lugares", afirmou.

SANTO BRASILEIRO

Os sinais de interesse do papa pelo Brasil, país que já visitou duas vezes (1985 e 1990) incluem também a escolha de dom Cláudio Hummes para prefeito da Congregação para o Clero e a canonização do frei Galvão.

Até o momento, apenas madre Paulina, nascida italiana, tem status de santa por milagres realizados no Brasil, condição que o frei Galvão, nascido em Guaratinguetá, no interior paulista, receberá na missa do papa do Campo de Marte.

O primeiro santo brasileiro contará com uma quebra de protocolo do Vaticano, que costuma indicar os santos ainda na Praça de São Pedro. Um sinal de prestígio, somado aos demais, que para os especialistas tem o dedo de dom Cláudio, ex-cardeal arcebispo de São Paulo.

Bento 16 ficará em São Paulo de 9 a 11 de maio, onde se encontrará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e realizará a canonização do frei Galvão.

Dos dias 11 a 13, ele visitará Guaratinguetá e Aparecida, onde presidirá o encontro do Conselho do Episcopado Latino-Americano(Celam). O papa volta a São Paulo no fim do dia 13 para retornar ao Vaticano.





Fonte: Reuters

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