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Nacional
Sábado - 05 de Maio de 2007 às 13:09
Por: Alexandre Caverni

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A canonização do primeiro santo brasileiro deve ajudar a fortalecer e motivar tanto a Igreja Católica local como seus fiéis. Frei Galvão preenche uma lacuna importante no país mais católico do mundo, mas sua popularidade pode levar algum tempo para se consolidar.

Essa é a avaliação de teólogos que reconhecem na figura de um santo o papel de modelo a ser seguido, além da costumeira devoção popular que ele provoca.

"O santo é um referencial. É o cristão modelo", disse o professor de Teologia da PUC-SP Antonio Marchionni. "É quem praticou as virtudes cristãs de forma excelente."

Marchionni recorre a uma comparação de fácil compreensão, para reforçar seu raciocínio.

Frei Galvão —que será canonizado pelo papa Bento 16, em São Paulo, na próxima semana— é um exemplo da força do catolicismo no Brasil e pode se tornar um ideal a ser seguido, assim como os grandes craques mostram o poder do futebol nacional e servem de exemplo para as crianças que começam a praticar o esporte.

"O Pelé é a prova de que o futebol brasileiro é poderoso, tem campeões, é um futebol vivo. Ele é um modelo de imitação, a garotada começa a jogar tentando imitar suas jogadas", comparou.

A professora Maria Angela Vilhena, também da PUC-SP, concorda. Para ela, caberá ao papa Bento 16 "fazer uma transposição do século 18 (quando Frei Galvão viveu) para o século 21", de modo que as pessoas possam entender como ele pode servir de modelo nos dias de hoje.

CONCORRÊNCIA

Além de ser uma "figura exemplar", segundo Maria Angela, frei Galvão preenche uma lacuna no catolicismo brasileiro "que, no âmbito popular, se caracteriza por um cunho devocional, santorial e que busca no sobrenatural as soluções para problemas".

"O brasileiro mantém uma relação de intimidade, de quase familiaridade com os santos", explicou a professora do Departamento de Teologia. "Nesse sentido, ele tem o santo como um protetor, para quem ele vai recorrer em caso de necessidade de cura."

Curas de todos os tipos: doenças; problemas emocionais, como ansiedade e depressão; dificuldades nas relações sociais; problemas da modernidade, como drogas e violência; e as complicações econômicas.

A professora da PUC lembra que essas curas também são oferecidas pelas igrejas evangélicas, para onde migraram muitos católicos, principalmente na década de 1990.

"Pensando nisso, um santo brasileiro, que aqui viveu e conhece nossas necessidades, vem responder a um anseio do povo brasileiro, que aprendeu a confiar no sagrado", argumentou Maria Angela.

Isso, porém, não é garantia de popularidade.

"Ele (frei Galvão) vai ter a concorrência dos santos já estabelecidos", lembrou Maria Angela, acrescentando, no entanto, que "ele já tem muitos devotos".

E não há necessidade de "exclusividade" na devoção dos fiéis, como mostra a professora aposentada Maria Suzana Pereira da Silva, 94 anos.

"Bom para nós termos... mais um santo para a gente rezar", disse Suzana. "Ele já faz milagres sem ser santo, imagine agora quando ele for canonizado."

Para Marchionni, esse é o tipo de reação que pode ajudar a Igreja Católica no país. O professor da PUC considera que o catolicismo tem sido "perseguido" desde 1889, quando o positivismo se impôs como força intelectual no país.

"A vinda do papa e a canonização de frei Galvão são um incentivo à Igreja Católica e aos fiéis no Brasil", resumiu.





Fonte: Reuters

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