"Risco-Bolívia" já reduz uso de gás no Brasil
Tal receio cresceu depois da interrupção, no mês passado, da produção do campo de San Alberto, que obrigou o corte do gás à Argentina e à usina térmica de Cuiabá (MT) e quase afetou a distribuição da Petrobras.
O episódio provocou uma retração de 65% nas conversões de veículos a gás em abril, segundo a Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás). Em média, são convertidos cerca de 20 mil veículos por mês.
O presidente da Abegás, Armando Laudorio, disse que, sob risco de desabastecimento de gás, o primeiro segmento a sofrer é o do GNV. "As pessoas vêem uma notícia como essa na TV, de que pode faltar gás, ligam para a oficina e desmarcam a conversão", disse.
Segundo ele, o crescimento cada vez menor do GNV explica a desaceleração do mercado de gás natural no país, que crescia à taxa de 20% ao ano até 2004. Em 2005, o ritmo já foi menor (8%). Em 2006, ficou em apenas 4%.
Para Francisco Barros, vice-coordenador do Comitê de GNV do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), o setor já havia sentido uma redução das conversões por conta do aumento de até 23% do gás natural nacional da Petrobras a partir de ontem, que nos postos tendem a chegar a 8%.
Na indústria, diz Barros, não há como reduzir o consumo, mas as distribuidoras já sentem demanda maior de empresas que procuraram a troca do gás natural por outro combustível.
Não fosse o receio de desabastecimento, avalia, o segmento industrial, que corresponde a cerca de 60% do consumo, poderia estar crescendo a taxas maiores. Em fevereiro, a expansão foi de só 2,5%.
O temor de serem obrigadas a parar suas linhas de produção por falta de gás e amargarem prejuízos enormes fez com que muitas indústrias trocassem o gás de suas caldeiras, fornos e outros equipamentos por combustíveis alternativos, especialmente o GLP.
As distribuidoras de GLP (gás de cozinha) já notaram a demanda crescente de indústrias e empresas comerciais que buscam tanto a conversão do gás para o GLP como a instalação de tanques para uso como "backup" --ou seja, para suprir a unidade emergencialmete em caso de falta de gás natural.
A SHV Gas Brasil, uma das maiores distribuidoras de GLP do país, já foi procurada por mais de 30 empresas que querem investir em equipamentos de "backup". Outras dez pretendem abandonar o uso de gás natural e substitui-lo por GLP.
Segundo Rubem Mesquita, diretor de marketing e vendas da SHV, dona das marcas Supergasbras e Minas Gás, as indústrias com grande consumo e nas quais o peso do combustível no custo de produção é elevado optam pela instalação de tanques de "backup".
Já as indústrias menores ou que não são tão dependentes do gás partem direto para a substituição, diz Mesquita.
É o caso da lavanderia catarinense Hospitec Produtos Hospitalares, que, insatisfeita com os resultados do gás natural, está convertendo suas unidades para o uso de GLP.
A empresa de autopeças Mubeia do Brasil e a companhia de equipamentos para energia Icomisa também já realizaram a conversão.
Mesquita disse que empresas maiores e intensivas no uso de gás natural, como Ambev, Acesita e Gerdau, já procuraram a SHV para instalar unidades de "backup".
O superintendente da Abividros (Associação Nacional dos Produtores de Vidros), Lucien Belmont, disse que, para as indústrias intensivas em gás, como vidreiras, siderúrgicas e químicas, é inviável usar GLP por causa da dificuldade de armazenar grandes volumes e em razão do elevado custo.
Enquanto o gás natural sai por cerca de US$ 6 o milhão de BTU (medida de energia), o GLP sai por volta de US$ 12.
"O que aconteceu foi que a Petrobras estimulou o consumo há quatro anos e fez tudo mundo converter para gás natural. Agora, as indústrias vivem com uma faca apontada, que é o risco de desabastecimento da Bolívia e a possibilidade de um racionamento de gás em 2008 ou 2009", disse Belmont.
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