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Terça - 01 de Maio de 2007 às 10:47
Por: Onofre Ribeiro

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O sentido das coisas mudou. Há alguns anos o Dia do Trabalho era o dia de comemorar o emprego e a segurança de se viver do trabalho. Trabalhar era uma coisa natural. Sem complicações. O estudante saía da escola técnica e começava a ganhar a vida imediatamente. O estudante da universidade já fazia planos no segundo ano: montar um consultório, casar, comprar um fusca ou algo parecido, comprar uma casa, ter filhos, se desse comprar uma chácara ou uma casa. E, depois.....aposentar e morrer.

As pessoas não mudaram. Mas a ordem das coisas mudou profundamente.

A escola técnica não garante emprego. A universidade não garante o consultório, e daí por diante, nada mais será garantido. A família mudou, porque mudou a sua equação de renda.

Antes, o marido sustentava a casa, e a mãe educava os filhos e as filhas, reproduzindo famílias perfeitamente previsíveis. Mas o país era muito atrasado, e as pessoas aceitavam o determinismo e as limitações de serem pobres. Na década de 70 surgiu o crediário e as casas vazias se encheram de bens de consumo. O dinheiro do marido já não bastava. O país crescia na esteira do “milagre brasileiro” que elevava o Brasil ao patamar dos 7% ao ano. Um escândalo, na época.

E a mulher quis sair de casa porque o mercado de trabalho queria mais e mais mão-de-obra. A família era constituída de muitos filhos. Oito, era coisa normal! Os parentes idosos cuidaram das crianças, mas um dia morreram. Elas foram para a rua no intervalo da escola. Depois a televisão descobriu um mundo de educação vazio que podia preencher com programas infantis do tipo Xuxa, e com eles a venda de produtos. Pronto. Tivemos uma geração de filhos da Xuxa com ânsia de consumo. Mas isso foi lá pelos anos 80. Aquelas crianças cresceram e reproduziram o modelo: pais e mães trabalhando para sustentar sonhos de consumo cada vez mais requintados. Se antes era uma simples geladeira ou uma tv em cores, hoje é passeio em transatlântico, férias na praia, etc.etc.

Justamente esse mundo industrial que abastece o consumo foi o traidor das famílias, dos empregos e das profissões. Os métodos de produção se modificaram para atender às exigências da globalização dos mercados e da competição mundial. As velhas linhas de montagem das indústrias ganharam automação e aquele velho funcionário de bigode fininho e colarinho engomado foi embora pra sempre. Aposentou-se ou morreu de tédio, substituído por rapazes e moças enlouquecidos pelas ondas da moda e do consumismo.

Por fim, chegamos ao Dia do Trabalho desse glorioso ano de 2007, da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nada romântico para comemorar em relação ao trabalho, senão o pesadelo de perdê-lo, de não tê-lo, de não alcançá-lo e de tê-lo mas insuficiente para o tamanho dos sonhos que o consumo gerou.

Saudades dos bons tempos de ontem. Amanhã, saudades dos bons tempos de hoje...!

Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM

onofreribeiro@terra.com.br





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