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Economia
Sexta - 27 de Abril de 2007 às 06:41

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quinta-feira, durante viagem ao Chile, que a ampliação do uso de biocombustíveis não ameaça a produção de alimentos na região, como sugeriu na semana passada o venezuelano Hugo Chávez. O presidente deixou Santiago na noite de quinta, rumo à Argentina.

O tema tomou praticamente metade do discurso que o presidente fez no escritório regional da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em Santiago, onde participou do lançamento da iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome.

Durante a visita, Lula recebeu de José Graziano, atual representante da FAO para a região e seu ex-ministro da Segurança Alimentar, um estudo sobre o impacto dos cultivos voltados para a produção de energia sobre o abastecimento na região.

Preocupado com a "ideologização" do debate, o presidente pediu a Graziano que elaborasse o estudo, que será apresentado e discutido durante a reunião da FAO, em maio próximo.

Endossando críticas que haviam sido feitas pelo presidente cubano, Fidel Castro (afastado do cargo), Chávez tem condenado o uso de alimentos para produção de combustíveis.

Embora o documento ainda não tenha sido publicado, o ex-ministro adianta que suas conclusões apontam que, tomadas certas precauções, a produção de biocombustíveis não representa ameaça às áreas de cultivo de alimento nem aos preços de produtos usados para gerar bioenergia.

"No caso da América Latina e da África, as evidências são suficientes para garantir que não há impacto sobre a produção de alimentos nem necessidade de destruir florestas para chegar ao B5", disse Graziano, referindo-se à mistura de 95% de diesel comum com 5% de diesel de origem biológica.

Medidas como zoneamento agroecológico e adoção de tecnologias poderiam ajudar a maximizar as oportunidades e minimizar os riscos da exploração dos biocombustíveis.

Caberia à FAO, que Lula quer ver cada vez mais envolvida na discussão, não só dar essas orientações, como monitorar a sua aplicação com o objetivo de criar um selo de certificação internacional.

Segundo ele, o estudo Bioenergia e Segurança Alimentar mostra que o impacto hoje no preço do milho é "passageiro" e só é sentido porque os Estados Unidos resolveram quadruplicar a sua produção do grão, de 25 milhões para 100 milhões de toneladas, em quatro anos para atender às metas do governo americano de aumento do consumo de etanol (como forma de aliviar a dependência do petróleo).

Tanto Lula como Graziano defendem que a fome na região não se deve à falta de alimentos e sim à má distribuição de renda.

Quanto à iniciativa contra a fome, Graziano disse que a FAO já apóia programas nesse sentido em dez países na região, além do Brasil, mas que espera que, com a iniciativa lançada nesta quinta-feira, a entidade chegue a outubro, quando se celebra o dia de combate à fome, com um número muito maior de países participantes.

Segundo o representante da FAO, a entidade quer que os 33 países da região transformem o combate à fome em prioridade.

Inspirada no programa Fome Zero, iniciado por Lula em 2003, a campanha anunciada oficialmente nesta quinta-feira conta com fundos da própria FAO e dos países envolvidos. Fora da região, o maior contribuinte é a Espanha.

Assim como havia feito em discurso após encontro com a presidente Michelle Bachelet, Lula aproveitou o pronunciamento para bater na questão da liberalização do comércio mundial.

O presidente voltou a defender que sem uma Rodada Doha bem sucedida o mundo vai continuar a sofrer com problemas como pobreza e terrorismo.

Lula criticou os países ricos por imporem barreiras aos países sem desenvolvimento, embora tenha dito que, depois da criação do G20 "ninguém pode (mais) fazer política sem levar em conta a nossa existência".

"Nós não somos mais vistos como países periféricos, sem importância", afirmou o presidente. "(Antes) só éramos chamados para discutir combate ao narcotráfico ou éramos lembrados pelas festas folclóricas".




Fonte: BBC Brasil

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