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Cidades/Geral
Quinta - 26 de Abril de 2007 às 10:21
Por: Carlos Veggi

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Recentemente a CNT/SENSUS divulgou uma pesquisa de opinião pública sobre o índice de violência urbana nas cidades brasileiras, na qual 90,9% dos entrevistados declararam acreditar que a violência tenha aumentado nos últimos anos.

Embora alguns pesquisadores apontem vários fatores como causa da violência, tais como o estado de pobreza ou miséria em que vivem os moradores das periferias de grandes centros urbanos, a falta de escolaridade, a ausência do poder público nesses bolsões de pobreza – que não estão dotados de infra-estrutura básica, como asfalto, rede de água, energia e esgoto – e ainda ausência de policiamento e justiça ágil e eficiente.

Há também pesquisadores que apontam o tráfico de drogas como sendo o responsável pelos índices alarmantes de violência a que estão submetidas as grandes metrópoles.

Pesquisas levantadas também mostram que os atos de violência, na grande maioria das vezes, são praticados por jovens do sexo masculino, entre 15 a 23 anos de idade. Outro dado importante é que a violência contra a vida acontece, em grande parte, nas camadas mais pobres da sociedade, enquanto que na classe média, a violência é contra o patrimônio.

Opiniões semelhantes a estas pesquisas são as dos meios de comunicação de massa, até por expressarem a opinião da elite dominante, que acaba sempre prevalecendo por imposição, e ocultam o verdadeiro motivo pela delinqüência.

Se a pobreza fosse causa da violência, então o que justificaria o modo pacato de vida que levam pequenos povoados do norte e nordeste, porém com um índice alto de pobreza, ou então tribos indígenas com total ausência do poder público, em relação à infra-estrutura, sem escolaridade, sem policiamento, com um índice de violência quase zero?

Outra causa apontada é o tráfico de drogas, porém esta é mais uma conseqüência do que propriamente uma causa.

O comportamento social, segundo um dos mais importantes pensadores de todos os tempos, Karl Marx, é determinado pelo modo de produção de bens necessários à subsistência do próprio indivíduo, e este comportamento tem influência sobre o agir individual, porém, é o próprio indivíduo que constrói o comportamento social. Através da luta de classes o comportamento social é dinâmico, está em constante mudança, e a única coisa estática é a própria mudança que está sempre em movimento.

Desde que o homem se constituiu em sociedade, segundo Marx com sua dialética materialista, houve quatro modos de produção: a) sociedade primitiva – se caracterizava pela solidariedade, produção coletiva e ausência de propriedade; b) O escravismo – com divisão de trabalho e a instituição da propriedade; c) O feudalismo – com divisão de trabalho, e dos bens de produzir riquezas (terra e ferramentas) pertenciam aos senhores; d) O capitalismo – modo instituído a partir de meados do século XIX, com o surgimento de uma nova classe social nos feudos, a burguesia que suplantou os senhores feudais através das lutas de classes.

Como Marx afirma, a característica deste último modo de produção é o sentimento individualista e a competição entre os indivíduos da mesma sociedade. Nos dias atuais esta competição se afunila cada vez mais, gerando uma brutal desigualdade entre indivíduos. Há os que muito têm e os que nada têm. É neste contexto que surgem os bolsões de pobreza nas grandes cidades, onde são bombardeados pelo ímpeto consumista intensificado pela mídia.

Neste sentido, jovens que tentam fazer parte de um grupo social, através de uma colocação no mercado de trabalho, e quando as portas lhes são fechadas, partem para a delinqüência, com a finalidade de adquirir algum bem, enquanto que jovens do sexo feminino sem opção de ganhar um sustento para suprir as próprias necessidades, vislumbram o seu modo de adquirir esses bens indispensáveis na prostituição.

Ao fazer uma comparação entre as pequenas cidades pobres com a periferia de uma grande cidade, notamos que nas cidades do interior a violência é menor ou inexistente, e daí podemos afirmar que se deve ao fato destes indivíduos possuírem uma cultura de certo modo solidária, além de que suas necessidades básicas serem menores que a das cidades grandes (tênis de marca, celulares, roupas dos times para os quais torcem, mp3, carro, motos, alimentação, baladas, etc); os jovens do interior sem ter “posses” conseguem fazer parte de um grupo social, eliminando a necessidade de adquirir bens, diferentemente dos jovens que moram nas metrópoles. É justamente nessa vontade de “possuir” dos jovens que os traficantes encontram um vasto campo para o recrutamento de “soldados” para seus exércitos de delinqüentes.

As soluções apresentadas pelos pesquisadores e muitas vezes pela imprensa não passam de paliativos, pois verifica-se que a cada ano este índice vem aumentando. Em conseqüência, aumenta-se o contingente policial, números de comarcas, etc.

Medidas mais eficazes de repressão devem ser tomadas de imediato para conter o avanço e até para diminuir a auto-prisão em que as famílias brasileiras são submetidas, pelo medo. Porém, medidas de longo prazo devem ser implementadas, como o aumento da oferta de empregos, escolaridade e principalmente uma conscientização na necessidade de mudarmos o modo de produção de bens para a subsistência, que seria o quinto modo de produção proposto por Marx, que seria a construção de uma consciência solidária, sem divisão de trabalho, sem propriedade dos meios de produzir riquezas e sem um estado repressor e coercitivo.

(*) Carlos Veggi é militante do PCdoB de Mato Grosso. E-mail: carlosveggi@hotmail.com





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