Proibição do uso de celular em aula divide opiniões
Alguns diretores de escolas estaduais acham que uma lei ajudaria no trabalho dos professores que se sentem incomodados com o uso de celulares no horário escolar. Outros, no entanto, não vêem fundamento e não aprovam sua criação.
O projeto está sendo avaliado pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj) e, se aprovada, será votada em plenário pelos deputados.
A intenção do deputado é acabar com a fofoca e o troca-troca de torpedos durante as aulas que, segundo ele, atrapalha o aprendizado e dispersa a atenção do professor e dos alunos. O projeto proíbe o uso inicialmente nas escolas estaduais, mas pode se estender também às escolas particulares.
"Conversei com alguns professores e me surpreendi com as inúmeras reclamações em relação ao uso do telefone celular pelos alunos. O projeto não visa proibir que os estudantes levem o aparelho para as escolas, afinal, os pais têm necessidade de monitorar os filhos principalmente por causa da violência. Além disso, as escolas possuem telefone fixo que pode ser utilizado pelo aluno em caso de urgência ou necessidade. Isso sem falar nos telefones públicos ("orelhões"). A lei é para impedir que o telefone seja utilizado em sala de aula, durante o horário escolar, e visa garantir que o aluno fique 100% atento a aula. Escola é lugar para estudar", explica.
Diretores de escolas dizem que o problema não existe
O problema dos celulares não ocorre nas escolas públicas, esta é a opinião de várias diretoras de escolas estaduais do Rio de Janeiro. Segundo sete escolas estaduais ouvidas pelo G1 (Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, no Rio Comprido, Colégio Estadual Infante Dom Henrique, em Copacabana, Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, no Catete, Colégio Estadual Antonio Maria, no Leblon, Colégio Estadual André Maurois, no Leblon, Colégio Estadual Paulo de Frontin, na Tijuca e Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, em Jacarepaguá), a questão existiu quando a tecnologia se popularizou, mas atualmente a prática abusiva dentro de sala de aula não ocorreria mais. As escolas dizem ainda que aplicam regras rígidas de controle e que os alunos não costumam desrespeitar.
Mesmo assim, alguns diretores acreditam que a idéia do projeto só vai ajudar no trabalho diário da escola. Neide Aparecida de Sousa, diretora-adjunta do Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, na Zona Oeste, conta que o colégio já teve problemas com alunos que abusavam do uso do celular. Segundo ela, foi feito um acordo de cavalheiros entre professores, pais e alunos.
“Aqui na escola começamos a enfrentar o problema há três anos. A gente pede para que eles desliguem os celulares e, caso toque, o aluno tem que sair da sala para atender a ligação, que só é autorizada pelo professor se for urgente. O uso realmente atrapalha. Essa evolução da sociedade é um problema. O celular, hoje em dia, faz parte do corpo dos alunos, que não conseguem mais ficar sem. Ele fica o tempo todo preocupado”, diz a diretora.
Neide acha que o projeto de lei complementaria as regras gerais da escola, que são estabelecidas no dia-a-dia. “Eu acho maravilhoso. Até porque o celular é objeto de uso pessoal do aluno e que a escola não tem o direito de interferir. Se ele guarda dentro da bolsa eu não posso abri-la, porque estaria interferindo na liberdade e privacidade dele. Não podemos passar esse limite. Sendo uma lei, o estado é quem diz que o aluno não pode usar. Uma vez que não pode, não pode. A única questão que me pergunto é que tem muita lei que não pega, né? Será que essa vai pegar?”, questiona.
A diretora-geral do Colégio Amaro Cavalcanti, no Catete, na Zona Sul, Ruth Maria Santos de Oliveira, conta que os alunos geralmente desligam o celular durante as aulas. “Hoje em dia celular é segurança. Quando tem algum problema sério eles deixam o celular na coordenação. Quando toca, o inspetor chama o aluno para atender o telefone”.
Segundo ela, a maioria dos alunos desliga os aparelhos, mas existem casos pontuais que interferem nas aulas. “Tive um problema no início do ano com um aluno. Ele era novo na escola e o celular tocou atrapalhando a aula. O professor o chamou e explicou que não podia. Ele desligou o celular e nunca mais voltou a acontecer. Celular aqui só pode no recreio e os alunos respeitam nossas regras.”
Opinião semelhante tem a diretora-adjunta, Mirtes Mega, da Escola Estadual André Maurois, no Leblon, Zona Sul. Ela diz que o aluno da escola pública respeita mais o professor e que o pobre não tem como manter um celular por causa do alto valor do serviço.
“Esse problema não existe na nossa escola. Temos regras rígidas e que são passadas logo no primeiro dia de aula. O aluno da escola pública costuma respeitar mais o professor. Aquela febre dos celulares já passou. Até já tivemos um caso que o aluno colocava campainha para tocar no meio da aula para perturbar. Chamamos a atenção dele, conversamos com os responsáveis e acabou o problema”, diz ela.
Mirtes, que trabalha há 32 anos na área da educação, é contra a lei e propõe ao deputado um outro projeto. “Acho que para proibir o celular na escola tem que proibir no teatro, no cinema, no carro, dentro do avião e demais lugares. O papel do professor é educar e quando a gente proíbe o uso de celular em sala de aula a gente está educando o aluno a não usar o aparelho em outros lugares. Não precisa de lei nenhuma proibindo nada. Vou fazer o quê? Prender o aluno? O aluno já sabe que não pode. Tem tantas leis mais importantes. Por que não faz uma lei para dar mais verbas para o ensino publico?”, sugere.
A Secretaria estadual de Educação (SEE) confirma a informação dos professores da rede estadual de ensino que têm por rotina orientar seus alunos a manterem os celulares desligados durante as aulas. A Subsecretaria de Planejamento da Educação da SEE considera que a regra se faz necessária para evitar que os alunos desviem a atenção dos estudos. Sobre o projeto, a Secretaria não se pronunciou.
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