De bumbum, besteirol e BBB
Um “comerutano” (mistura de comunista, erudito e puritano) dos idos do século passado que a conhecesse agora, com certeza diria que a televisão é a mais diabolicamente destrutiva das invenções a serviço do “capitalismo imperialista”, que a usa para globalizar o domínio do poder econômico e destruir os valores culturais das nações espoliadas. Claro que não chego ao extremo de generalizar e fazer minhas as palavras do imaginário personagem acima. Mas que grande parte da televisão de hoje é algo extremamente nocivo à cultura não há a menor dúvida. As mais autênticas expressões artísticas e os mais comezinhos princípios éticos e morais sofrem a influência negativa de suas distorções corrosivas.
A serviço do poder econômico e no afã de fabricar bilhões para os seus donos e patrocinadores divulgando futilidades, a TV não tem preocupações quanto à qualidade dos seus serviços. Sua principal tarefa é imbecilizar multidões, empanturrando-as de subprodutos da tal cultura de almanaque e, celebrizando as nulidades, produzir em série gênios debilóides e eruditos analfabetizados. Haja vista – salvo as chamadas honrosas exceções – a galeria de seus famosos apresentadores de programas, redatores e âncoras de telejornais, comentaristas, pseudos formadores de opinião e outros espécimes que povoam o fantástico universo da mídia televisada. Essa turma frente às câmaras e microfones forma a vanguarda dos predadores da nossa cultura que se encarregam de impingir-nos as baboseiras televisivas que infernizam o nosso dia-a-dia.
As grades de programação das emissoras confirmam a máxima do velho Chacrinha, segundo a qual em televisão nada se cria e tudo se copia. As telenovelas com suas tramas simplórias e repetitivas, que não passam de variações medíocres sobre temas abordados com simplismo, desafiam a tolerância de telespectadores com um mínimo de inteligência. Os programas dos mais variados gêneros que poluem diariamente as nossas tardes e noites, são verdadeiros festivais de besteirol e bem poucos resistem a uma crítica menos condescendente. O saudoso Stanislaw Ponte Preta com certeza os incluiria em seu famoso Festival de Besteira que Assola o País.
Dos programas de auditório, a verdadeira MPB e seus autênticos intérpretes foram excluídos. Hoje seus lugares estão ocupados por falsos cantores e música de baixa qualidade com melodias pobres, letras burras, títulos pornográficos e apelos sexuais explícitos, que são apresentados com coreografias sensuais que excitam a libido e fazem a farra dos sentidos. É o endeusamento do corpo curvilínio e a glorificação do bumbum siliconado, numa mitomania de fazer inveja aos debochados deuses do politeísmo pagão. Ensandecida à cata de ibope, nossa TV abre espaço à mediocridade e ao chulo, trocando talento por canastrice e promovendo excitantes festivais de bundas rebolantes. É o espetáculo dos movimentos elásticos de polpas bipartidas que expostas reverberam o fascínio do convexo.
Para completar, a loura platinada do plim plim, com o seu famoso padrão de qualidade e para castigo dos nossos pecados, importou das “estranjas” o tal de BigBrother. Para se ter uma idéia do que é essa “coisa”, basta saber o que disse a respeito a nossa Fernanda Montenegro, a diva do teatro: “O BigBrother incomoda, incomoda paca”. Juntando burrice à malandragem, o BBB consegue ser ao mesmo tempo um programa imbecil e rentável. Enquanto todas as noites nos impinge um grupo de analfabetos falando abobrinhas e casais tentando furtivas e camufladas bolinagens sob os edredons, vai abarrotando de grana as burras da emisora dos Marinhos, que arrecada milhões com a jogada esperta dos paredões semanais.
De cada telefonema dado (são milhões) por essa galera burra que vota para eliminar um pateta do reality show, nossa Globo arrecada R$ 0,30. Só para se ter uma idéia do montante desse faturamento extra, só nos três últimos paredões ocorreram mais de cem milhões de ligações.É dinheiro pra burro, ou melhor, dos burros.Ainda bem que mais um BBB chegou ao fim nos deixando livres, por algum tempo, dos caricatos “heróis” do Bial...
(Wilson Lemos: e-mail wfelemos@terra.com.br)
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