PF prende desembargadores e cúpula do jogo ilegal no Rio
As autoridades detidas são acusadas de vender proteção e informações aos contraventores. O diretor de inteligência da PF, Renato Porciúncula, classificou a operação como a que envolveu o maior número de autoridades na história.
Todos os presos tiveram a prisão temporária decretada, por cinco dias, acusados de integrar esquema de jogo ilegal, corrupção, contrabando, tráfico de influência e receptação.
A Folha apurou que foram apreendidos mais de R$ 6 milhões em dinheiro com os presos, além de documentos, computadores e 42 carros de luxo, entre os quais Mercedes-Benz e Audi.
Foram detidos os contraventores Aniz Abraão David, o Anísio, presidente de honra da Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis; Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) e seu sobrinho Júlio Guimarães Sobreira; e Antônio Petrus Kalil, o Turcão.
Para o delegado Renato Porciúncula, os presos "montaram rede de corrupção e tráfico de influência" para ficar impunes.
Foram também presos o titular da Delegacia da PF em Niterói, Carlos Pereira da Silva, a delegada federal Susie Pinheiro Dias de Mattos, corregedora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), e o delegado federal aposentado Luiz Paulo Dias de Mattos --que tem os mesmos sobrenomes e endereço de Susie.
O procurador regional da República no Rio João Sérgio Leal Pereira --afastado por responder a processo por formação de quadrilha e estelionato qualificado--, foi preso na Bahia. Os presos seriam levados de avião ainda ontem para Brasília.
O desembargador preso José Eduardo Carreira Alvim era vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região até quinta-feira. No ano passado, Alvim liberou 900 máquinas caça-níqueis apreendidas em bingos em Niterói.
A PF deteve o advogado Virgílio de Oliveira Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo Medina, que também concedeu liminar liberando máquinas caça-níqueis --decisão cassada pelo Supremo Tribunal Federal.
O delegado federal Carlos Pereira da Silva, chefe da delegacia de Niterói, foi detido, acusado de receber pelo menos entre R$ 40 mil e R$ 50 mil mensais de contraventores.
Para evitar vazamento, 360 policiais federais dos três Estados do Sul foram ao Rio para a operação, que começou às 6h de ontem. Além das prisões, cumpriram 70 mandados de busca e apreensão no Rio, em São Paulo e Brasília.
A investigação começou há um ano, a partir de apuração sobre contrabando de componentes eletrônicos, e foi conduzida pela Diretoria de Inteligência da PF em Brasília. Segundo Porciúncula, a operação tinha inicialmente o nome de "Furacão", em português, mas depois teve o idioma trocado quando foi enviada ao Supremo, e "subiu de instância".
Em Petrópolis, a PF encontrou mais de R$ 1 milhão em um cofre elétrico, preso em uma parede falsa de uma casa. Em uma casa na Barra da Tijuca, mais R$ 40 mil e duas Mercedes-Benz. Mais R$ 700 mil foram apreendidos em outra casa. Em outra residência na Tijuca (zona norte), havia mais cerca de R$ 1 milhão.
O dinheiro foi apreendido principalmente em casas de contraventores e "fortalezas" do jogo do bicho e caça-níqueis e precisou ser transportado em dois caminhões caixas-fortes até a sede da PF.
O diretor de inteligência da PF informou que o dinheiro seria contado e depositado na Caixa Econômica. No ano passado, o equivalente a R$ 2 milhões apreendidos pela PF em operação contra o tráfico de drogas foram roubados dentro da sede da instituição.
Os pedidos de prisão e busca e apreensão foram feitos pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza ao ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso. Os gabinetes dos desembargadores do TRF foram lacrados.
Segundo a PF, a operação ocorreu ontem "porque era o dia de pagamento de propina". A Associação dos Magistrados Brasileiros defendeu "apuração rigorosa dos fatos".
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