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Quarta - 11 de Abril de 2007 às 08:47

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A China estreou pela primeira vez na história um programa sobre homossexuais na Internet, um fato inédito dentro de um país aparentemente conservador e puritano, apesar de o enfoque ao assunto ter sido criticado por parte de grupos gays e ativistas.

O programa intitulado "Tongxing Xianglian" ("Os de mesmo sexo se unem"), que inclui debates, espetáculos e interatividade, estreou na última quinta-feira em uma faixa horária de máxima audiência na rede mundial de computadores, de 15h às 16h, e é produzido pelo canal de Hong-Kong Phoenix TV, que prevê uma veiculação semanal durante três meses.

A estréia é expressiva e sem precedentes na China, onde até 2001 o homossexualismo era considerado uma doença mental e onde 21% dos 40 milhões de homossexuais chineses reconhecidos já foram vítimas de agressões físicas, humilhações, insultos ou subornos, segundo uma pesquisa de 2005.

O objetivo da Phoenix TV, que a imprensa oficial classifica como um sinal de abertura do país, é, precisamente, abrir a mentalidade dos chineses para o homossexualismo, disse à agência Efe seu produtor, Gang Gang. "A reação foi muito melhor do que esperávamos. Pensávamos que uma grande parte da audiência não nos entenderia, mas só 20% se mostraram contrários à idéia", disse Gang, especificando que o programa atingiu na quinta-feira passada uma audiência de até 4 milhões de internautas.

As queixas recebidas, disse, têm a ver com "a reação violenta que ainda ocorre na vida privada dos homossexuais e pelo fato de que seja transmitido em uma faixa horária de máxima audiência, já que os homossexuais são considerados minoria na China".

Na primeira transmissão, a lésbica Qiao Qiao saiu do armário diante de milhões de chineses em frente às câmeras, e reconheceu que foi muito difícil explicar sua opção sexual a sua família. "Minha mãe me apoiou, mas meu pai ainda não aceitou", disse Quiao Quiao, cantora e dona de um bar, ao apresentador, o também homossexual Didier Zheng.

Segundo Gang, a falta de pudor se deve ao fato de que muitas pessoas se afirmam como homossexuais nas grandes cidades e, como têm um nível cultural mais alto, não titubeiam em confirmar sua opção sexual. No entanto, o mais difícil de se entender é a atitude do Governo, que sequer permitiu a estréia no ano passado do filme "Brokeback Mountain". O longa-metragem deu o primeiro Oscar a um diretor chinês, Ang Lee, de origem taiwanesa.

"O cinema é uma arte que explica uma história pessoal, mas nosso programa está focado nos problemas sociais; há um intercâmbio entre o público e os homossexuais", disse o produtor.

O enfoque de Gang foi criticado por alguns, como o ator Wei Jiangang, que rejeitou ir ao programa. "Querem demonstrar que foram os primeiros a fazê-lo. Mas a abordagem não é nova e não causa reflexão, apesar de ser um avanço", afirmou.

Segundo Wei, o título do programa é um trocadilho infame com um ditado chinês, "Tongbing Xianglian", "os que padecem da mesma doença se compadecem mutuamente", o que continua relacionando os homossexuais a "doentes".

O ator também disse que os responsáveis não estão bem informados, que "a qualidade pode ser melhorada" e que os assuntos tratados "interessam à sociedade, mas não aos próprios homossexuais". Por esse motivo, nesta quarta-feira, Wei transmitirá seu próprio programa, também na Internet, "mas mais dinâmico e com temas que abordam realmente os homossexuais".

Outro motivo que levou Pequim a aprovar a nova proposta foi que "o contágio da AIDS atraiu a atenção do Governo, que acredita que os homossexuais são mais difíceis de controlar que outros grupos de risco como as profissionais do sexo, porque permanecem ocultos. Acho que buscam uma plataforma para divulgar a prevenção da doença", acrescentou Gang.

O fato de a China dedicar um programa à AIDS despertou a desconfiança para uma nova forma de discriminação oficial. Meng Lin, homossexual soropositiva que dirige a ONG Ark of Love em defesa dos direitos dos doentes de AIDS, disse que "o Governo sempre vincula a doença com certos grupos de risco, como vendedores ilegais de sangue, homossexuais, drogados e prostitutas.

Não concordo de maneira nenhuma com essa abordagem".

Meng lembrou que em 1º de março de 2006 o Governo chinês promulgou novas diretrizes para a prevenção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), e que no capítulo 7 assinala três grupos de risco: prostitutas, pessoas promíscuas e homossexuais, "o que traz consigo uma vinculação jurídica".

Mesmo assim, Meng reconhece que "Tongxing Xianglian" oferece uma visão positiva sobre o homossexualismo, mas acredita que o Governo chinês deveria explicar "que todo mundo pode contrair AIDS, e não só os homossexuais e os promíscuos. Isso é uma discriminação", concluiu.





Fonte: EFE

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