FMI alerta sobre a possibilidade de uma crise global
O aviso do FMI está fundamentado no comportamento dos investidores, que têm ignorados os riscos e diversificado demais suas aplicações mundo afora. “A maior diversidade de investimentos deveria contribuir para a estabilidade financeira. Mas a velocidade com que o capital está se movimentando pode provocar distorção e criar bolsões de vulnerabilidade”, ressaltou o Fundo. Para a instituição, o quadro se torna mais preocupante devido ao intenso processo de internacionalização e de concentração dos bancos, que criou um sistema mais sensível a choques externos. “Crescentes laços internacionais entre grandes instituições podem fazer com que graves crises se tornem menos previsíveis, mais abrangentes e complicadas de lidar.”
No entender do FMI, o risco mais visível está no mercado de hipotecas de imóveis dos Estados Unidos. Denominadas subprimes, essas hipotecas são financiadas a juros elevadíssimos. Os americanos estão dando seus imóveis como garantia em empréstimos a taxas muito acima das praticadas nos mercados tradicionais. O problema ganha maior relevância, segundo a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli, porque essas hipotecas são financiadas por uma cadeia de credores (um fundo financia outro fundo, que financia um terceiro...), na qual fica difícil para o tomador do crédito identificar a quem realmente deve. “Se uma dessas pontas quebrar, certamente uma crise sistêmica tomará conta do mercado. O FMI reconhece que os órgãos reguladores americanos estão atentos ao problema. Mas é preciso fazer mais para se antecipar a possíveis crises”, disse.
Lição do Brasil
Alvos preferidos do capital que migra pelo mundo em busca das melhores oportunidades, os países emergentes estão conseguindo tirar proveito do interesse dos investidores estrangeiros para consolidar fundamentos econômicos. Mas a recomendação do diretor do Departamento Monetário e de Mercados de Capitais do FMI, Jaime Caruana, é para que esses países monitorem, com rigor, os níveis de volatilidade (oscilações) de seus mercados. Em Washington, Caruana citou o Brasil como exemplo dos benefícios e males que o capital estrangeiro pode trazer.
O governo brasileiro estimulou investidores estrangeiros a aplicarem em títulos da dívida pública, mais especificamente em Notas do Tesouro Nacional série B (NTNs-B), de mais longo prazo e rejeitadas pelos investidores locais. Em maio do ano passado, quando o mercado internacional mergulhou num clima de nervosismo, os estrangeiros venderam esses títulos para sair do Brasil. O resultado foi uma desvalorização de 13% do real frente ao dólar. Logo depois, o real recuperou o fôlego. “Mas correções como essa servem para lembrar que os riscos não podem ser ignorados”, assinalou Caruana.
Para o FMI, os países emergentes têm aproveitado o bom momento para reforçarem as defesas contra choques. O exemplo mais evidente é o número de nações (38) que, em 2006, tiveram seus ratings aumentados pelas agências de classificação de risco. As notas destoantes são Venezuela, Equador e Tailândia, cujos regimes políticos estão indo na direção oposta do mundo. O Fundo destacou ainda sua preocupação com possível queda dos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional), principais produtos exportados por países emergentes como o Brasil e a Argentina. Nick Chamie, chefe do grupo de Renda Fixa de Mercados Emergentes do Royal Bank of Canadá, prevê, porém, que pelo menos nos próximos cinco anos, os preços das commodities continuarão na ponta de cima, graças à forte demanda da China, de países da Europa e do Japão.
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