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Domingo - 08 de Abril de 2007 às 11:14
Por: Rose Domingos

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As páginas do orkut são cada vez mais utilizadas para a divulgação de preconceito racial na internet. Palavras antes evitadas no convívio social, como “preto”, “macaco”, “burra” ou “analfabeta” são largamente usadas por estudantes, professores, médicos e advogados para desqualificar a política de cotas. A constatação é parte de uma pesquisa inédita no país, desenvolvida pela professora Maristela Abadia Guimarães, da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).

Ela identificou 23 comunidades que abordam o assunto “cotas para negros” e temas afins, que mostram depoimentos chocantes dos seus frequentadores. Ao contrário do senso comum, o resultado do trabalho mostrou que não existe harmonia de raças no Brasil. Por se sentirem protegidos pela máquina, os participantes ficam corajosos para dizer o que pensam, de forma crua e sem pudores. “Quebra-se totalmente a etiqueta social das relações raciais”.

Maristela, que é coordenadora do Núcleo de Estudos e Relações de Gênero, Raça e Alteridade (Negra), começou a pesquisa de maneira tímida, mas acabou se filiando a várias comunidades, das quais levantou cerca de 67 tópicos. Os criadores dessas comunidades eram contrários e/ou favoráveis às cotas raciais. Foram necessários 12 meses de acompanhamento constante dos diálogos com os “orkuteiros” para se chegar à conclusão da pesquisa, em agosto do ano passado. “Existe muita intolerância e agressividade nos discursos, perdi várias noites de sono e a fome em razão de tamanha violência”.

A professora explica que o discurso dos participantes está carregado de “mérito”, ou seja, que os candidatos aos vestibulares que frequentam cursinhos têm mais merecimento para ingressar no ensino superior, pois estão mais preparados, estudaram mais. Mas não considera as diferenças que fazem com que uns possam estudar mais do que os outros. “Maltratemos, por motivos raciais, sem ter qualquer grau de percepção de que estamos incorrendo em um ato de racismo”.

Em sua pesquisa, ela descreve vários de tipos de racismo. Um deles, praticado pela maioria da população, o “racismo prático”, é aquele automático, irrefletido, naturalizado e culturalmente estabelecido e, nem por isso, menos ofensivo. Ao contrário é diário, difuso que “constitui o gargalo e escoadouro dos alunos negros, impedindo-os de avançar no sistema educativo, derrubando-os no caminho”.

Assim, no orkut, o comportamento racista não é velado, e sim veementemente expresso. O “orkuteiro” não só reconhece o negro como inferior, como tem consciência do lugar que o branco ocupa e se sente legitimado por ocupar esse lugar, o que o faz negar diversas vezes o racismo e, ao mesmo tempo, denominar a população negra de “inferior”.

A ferramenta - O orkut (www.orkut.com) é um site de relacionamentos criado em 2004, cuja finalidade é reunir amigos e pessoas com afinidades. Nele, é possível criar comunidades que discutem temas variados. Dentro delas existem os fóruns, ou seja, tópicos que criados para depositar opiniões sobre assuntos vários. Para ter acesso, um amigo precisa convidá-lo através do seu endereço pessoal, o e-mail.





Fonte: Gazeta Digital

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