Fazenda de Blairo Maggi é visitada por expedição inglesa
Pouco antes de partirmos para a viagem, tivemos um encontro muito útil com o chefe Aritana Yawalapiti, chefe-supremo do Parque Indígena do Xingu, que cobre o primeiro quarto da nossa viagem.
Também passamos um tempo no Centro Cultural da Funai, onde os índios penduram as suas redes, quando vão visitar a cidade.
Para termos uma idéia maior das dimensões do desmatamento na região do entorno do parque, decidimos visitar um dos povoados à beira da estrada antes de sairmos com o barco. Ngoiwere (ou Ngôjhwêrê) é o principal povoado da tribo Kisêdjê ou Suyá.
Os Kisêdjê reocuparam a região depois de viver 40 anos na região central do parque, para onde foram levados pelos irmãos Villas-Bôas, fundadores do parque.
O velho povoado ficara fora dos limites do parque criado em 1961, e as terras sagradas onde os ancestrais indígenas estão enterrados foram tomadas por grileiros que desmataram a região e plantaram pasto para criar gado.
Os Kisêdjê reconquistaram os direitos sobre as terras depois de uma longa batalha, tanto no território quanto na Justiça. Eles fundaram o vilarejo novamente há cinco anos nesse local histórico. Hoje, eles criam gado, mas lentamente, estão deixando a vegetação nativa voltar à terra degradada.
A nossa viagem de Canarana levou sete horas. Vejas fotos da Expedição
Depois de uma curta pausa, voltamos à estrada e logo entramos na enorme Fazenda Tanguro, uma das várias propriedades da família do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi. A família Maggi é a maior produtora de soja do mundo.
Viajamos por quase duas horas, por uma distância de 55 quilômetros, antes de sairmos da fazenda, que cobre 820 quilômetros quadrados, o mesmo tamanho do município de São Paulo.
Os índios têm uma relação ambígua com Maggi, já que ele pelo menos os deixa usar as estradas que cortam a fazenda.
A principal preocupação dos Kisêdjê é que as nascentes dos rios que alimentam o Xingu sejam protegidas.
Y-Ikatu Xingu, a maior campanha de preservação de matas ciliares, as áreas mais vulneráveis de floresta às margens dos afluentes do Xingu, está começando a dar sinais de progresso, com o envolvimento de todas as partes interessadas.
No entanto, nos pontos em que os donos de terra são intransigentes, a destruição por erosão e poluição agroquímica é grave.
Finalmente chegamos, empoeirados e cansados, depois de atravessarmos o tradicional círculo de ocas de madeira e palhoça que forma a aldeia de Ngolwere. Fomos recepcionados efusivamente pelo cacique e sua família.
A cultura Kisêdjê resiste, e a aldeia é tradicional.
Eles continuam a plantar a maior parte dos alimentos que consomem, e as cerimônias desempenham um forte papel na rotina deles. As crianças têm aulas na língua deles e aprendem português como segunda língua, embora mesmo aqueles que nunca tiveram aulas fora da aldeia tenham um ótimo conhecimento da língua.
O que ficou claro foi um desejo universal de manter aquele estilo de vida, mesmo entre aqueles que passaram mais tempo fora da reserva, que trabalham com computadores e têm endereços de e-mail.
A vida na aldeia tem vários pequenos prazeres: tomar banho nas águas límpidas do rio, brincar com as crianças, dividir as refeições com uma família unida, em que as diferentes gerações conseguem se entender, dormir na rede ao som dos barulhos da floresta.
Tudo isso fez um contraste bem-vindo para o alto volume do rap que saía dos alto-falantes dos carros e que nos atrapalhava o sono diariamente em Canarana.
A nossa estada foi maravilhosa em quase tudo. A exceção foi a duração – foi curta demais.
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