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Tecnologia
Terça - 03 de Abril de 2007 às 02:32

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O Minitel, um minicomputador patrocinado pelo governo francês que conectava 14 milhões de domicílios no país, em seu pico de popularidade, nos anos 90, tinha pouco a oferecer em termos de serviço, sua velocidade era lenta, o monitor funcionava em preto e branco e as baixas velocidades de conexão o condenaram à extinção diante da concorrência da Internet.

Agora, um provedor francês de acesso à Internet, a Neuf Cegetal, se inspirou no Minitel para desenvolver um computador com base em modelo de baixo custo semelhante, dirigido a pessoas que não podem ou querem comprar um computador. Em um gesto dirigido aos entusiastas da computação, no entanto, o sistema usa o software de fonte aberta tão querido aos engenheiros e programadores.

"Queríamos criar algo tão simples e barato quanto o Minitel a fim de atingir os tecnófobos e as pessoas sem dinheiro", disse Frédéric Charrier, gerente do projeto Easy Neuf, cuja primeira campanha publicitária nacional estreou na semana passada. "Por uma taxa de assinatura um pouco mais alta, os clientes recebem um computador simplificado com todos os serviços que podem desejar".

Por 39,90 euros (US$ 53), 10 euros a mais do que custam as conexões normais de banda larga na França, os usuários recebem um computador branco mais ou menos do tamanho e formato de uma torradeira. Um pagamento único de 29 euros providencia o teclado, mouse e câmera. Por mais 99 euros, o consumidor recebe um monitor de 14 polegadas.

Os provedores franceses de acesso à Internet têm motivos convincentes para estimular os usuários a comprar computadores, disse Ian Fogg, analista da Jupiter, uma empresa de pesquisa, em Londres. A posse de computadores por domicílio na França, que é de 61% de acordo com a Jupiter, fica abaixo da média européia de 64% e significativamente abaixo dos níveis de países escandinavos como Dinamarca e Suécia, onde mais de 80% dos domicílios dispõem de computadores. Ao mesmo tempo, a rápida desregulamentação tornou a França um dos mercados mais competitivos da Europa, para provedores de acesso.

"As pessoas falam dos mercados nórdicos, mas os mercados de Internet mais dinâmicos da Europa são o da França e o da Holanda", afirma Fogg. Na França, três grandes empresas privadas estão competindo para instalar cabos de fibras ópticas para conexão residencial. "A França está liderando a Europa em termos de uso de massa da banda larga transmitida por fibra óptica", ele disse.

Diante da necessidade de financiar esse dispendioso investimento em infra-estrutura, as empresas que estão levando cabos de fibra óptica às residências ¿Orange, Free e Neuf- têm de maximizar o número de consumidores que usem esse tipo de conexão.

"Se um terço das pessoas em um edifício não tiverem computadores e não virem motivo para contratar conexão banda larga, a questão financeira se torna séria", disse Fogg. "Algumas empresas de Internet vêm oferecendo incentivos para que as pessoas adquiram computadores, mas a Neuf levou a idéia a um novo nível, ao oferecer o computador por conta própria".

Para a Neuf, a questão se resumia às dificuldades que usuários iniciantes enfrentam para usar o Microsoft Windows. "Cerca de 80% dos usuários atuais de computadores se queixam de problemas com o Windows", disse Charrier. "Nossa promessa de serviço ao consumidor nos levou a conceber tudo do ponto de vista do usuário, de modo a reduzir os pedidos de assistência que recebemos. Isso começa com um manual de instrução contendo muitas ilustrações, se estende a uma interface de uso simplificada e chega até ao design do teclado".

O teclado emprega códigos de cores para indicar os caracteres que aparecem com o uso das teclas Alt e Shift, e têm teclas separados para o símbolo do euro e o cifrão. Os clientes podem solicitar que o computador seja operado e inspecionado a distância pelos técnicos do provedor, para solucionar problemas. A própria máquina notifica à Neuf sobre problemas como superaquecimento, que um usuário pode não detectar.

Para o sistema operacional, o computador usa uma versão do Linux com um projeto gráfico concebido pela Neuf. "A escolha do software de fonte aberta envolveu tanto o preço quanto a motivação", disse Charrier. "Nós não pagamos taxa de licenciamento pelos programas, e os programadores se sentem motivados a trabalhar em uma nova espécie de projeto que ajuda a comunidade de fonte aberta".

A escolha foi elogiada pelo April, um grupo de defesa do software gratuito e de fonte aberta. "Trata-se da primeira vez em que uma empresa oferece software de fonte aberta em um produto de consumo em massa, e dispõe de um serviço de assistência aos usuários", disse Benjamin Brieu, tesoureiro da April e funcionário de outra empresa envolvida no projeto da Neuf. "Normalmente, só programadores têm a confiança necessária a usar o software de fonte aberta, e por isso o novo produto pode mudar as concepções sobre o software livre".

O pacote de software de fonte aberta instalado no Easy Neuf inclui o browser Firefox, o processador de texto Ab/word e o programa de planilhas Gnumeric. A memória básica é de limitados 512 kilobytes, em formato flash, mas o aparelho tem portas para discos rígidos externos e periféricos como impressoras, fones de ouvido, microfones e câmeras digitais. À medida que novos software se tornarem populares, o software necessário a atualizar a máquina estará disponível via atualizações regulares da Neuf.

Os comandos de Internet foram simplificados. "Descobrimos que muita gente prefere uma Internet básica, limitada ao essencial", disse Charrier. "O cliente que procuramos prefere uma oferta estável e limitada".




Fonte: Terra

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