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Nacional
Sábado - 24 de Março de 2007 às 23:46

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Brasília - A coordenadora no Brasil da Associação Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, Clara Charf, destaca como uma das primeiras ações da rede a abertura, hoje (24), em São Paulo, da exposição com retratos de mil mulheres de 150 países indicadas em 2005 ao Prêmio Nobel da Paz.

A rede 1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo, que promove a mostra, surgiu em 2003, quando uma fundação suíça passou a defender o reconhecimento público da atuação das mulheres na construção da paz. O Brasil, sob a orientação de Clara Charf, indicou 52 nomes – cota baseada no número de habitantes.

As mulheres não levaram o prêmio em 2005, concedido ao egípcio Mohamed El Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica. Mas o projeto delas adquiriu reconhecimento mundial e se ampliou.

"Não precisa ser indicada, qualquer mulher pode aderir à rede, desde que batalhe pela paz, o que significa lutar pelo acesso ao trabalho, a uma vida sem violência, a moradia, a educação e ao combate ao racismo, por exemplo. Essas são causas do cotidiano das mulheres", disse Clara Charf. E acrescentou: "Muitos homens fazem isso, mas essa iniciativa é para as mulheres".

No Brasil, explicou, a rede está em estruturação e conta com a ajuda de muitos movimentos ligados à luta pela igualdade de gênero. O próximo passo, segundo a coordenadora, é articular ações em parceria com as associações de outros países. "O nosso trabalho não será desligado do resto do mundo. Não podemos somente fazer as coisas internamente, essas [52] mulheres estão ligadas às de outros continentes. Essa é a beleza e a força deste projeto", destacou.

O projeto 1000 Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo está diretamente relacionado à vida de Clara Charf, que nos últimos 61 anos militou "pela causa do povo brasileiro", como ela mesma definiu. "Quando comecei a militar, as mulheres quase não saíam sozinhas de casa. Mas nós sempre batalhamos muito", acrescentou, ao destacar também os avanços nas décadas de 60 e 70, como o Ano da Mulher (1975).

Aos 82 anos, ela afirmou que o fato de mulheres ocuparem diversos espaços na sociedade "não é ainda tudo o que a gente precisa, mas é uma grande força". E conclamou os homens a "abrirem os olhos" para a questão da igualdade de gêneros, ao propor uma vida melhor para todos: "Tem homem que ainda não abriu os olhos para nada e que ainda pratica todo tipo de violência contra as mulheres. Mas muitos, mesmo que em número insuficiente, são aliados. O que eles precisam entender é que quanto maior for a equiparação de direitos e deveres entre homens e mulheres, melhor será a vida do casal".

Clara Charf foi companheira de vida e luta do guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado em 1969 e, para ela, também um feminista. "Quando vivíamos na clandestinidade, ele não sabia passar roupa. Então, ele lavava e eu passava. Nessa hora, ele sentava ao meu lado e começava a ler textos em voz alta para eu não perder tempo com trabalho físico", lembra entre risos.

Nascida em Maceió (AL) e descendente de russos, Clara Charf faz parte da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.





Fonte: Agência Brasil

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