Justiceiros nazistas
Trago o assunto porque essa atitude de espancamento nas casas noturnas e nas festas tornou-se comum em Cuiabá e tem ficado impune como normalidade. Há algum tempo, escutei a estória de um rapaz que foi espancado até quase morrer, porque cismou de negar a conta numa boate da elite. Bêbado, arranjou encrenca, e o dono da casa chamou a segurança e deixou bater enquanto o gorila quis.
Na última festa rave, realizada numa chácara na estrada para Santo Antonio do Leverger, um jovem bêbado ou drogado, foi apanhado roubando o toca-cd de um carro. Os seguranças espancaram-no quase à morte e ainda ameaçaram quem tentou interferir. Outra casa noturna da elite, manda bater sempre que necessário. Com as imagens filmadas pelas câmaras do salão, intimidam os pais que se arriscam a reclamar. São centenas os casos.
Muito bem. Os fatos, então, são: as casas noturnas contratam seguranças particulares, policiais de folga e “atletas” das academias de luta para “vigiarem” as festas. São pessoas despreparadas, semi-analfabetas e loucas para aparecerem. Adoram espancar e mostrar o físico bombado, porque é a forma que encontram para serem notadas. No mais, recebem R$ 50 por noite e são dispensados sem mais.
Ora, todos sabem que os jovens realmente aprontam. Bebem demais, se drogam, arranjam encrencas, compram brigas, desacatam garçons, os donos das casas, xingam os seguranças, etc.etc. Mas são jovens. Se as casas noturnas acham que não podem lidar com esse comportamento dos jovens, então não abram suas portas e não os deixem entrar, embora eles sejam o seu público frequentador. Se a arruaça ficar fora de controle, é o caso de chamar a polícia e entregar-lhes os arruaceiros. Mas praticar justiça por conta própria é um absurdo. Todas as casas noturnas fazem isso como atitude normal.
Se não querem que os jovens aprontem, então não lhes vendam bebidas alcoólicas e não permitam que entrem drogas trazidas por eles mesmos, pelos garçons e pelos próprios seguranças, ou que sejam vendidas lá dentro. Por sua vez, a polícia faz vistas grossas, além do que não pode entrar nas casas noturnas, exceto se chamadas. Como lá dentro se faz justiça, então a polícia acaba dispensada.
O estudante Djalma Ermenegildo Júnior é de família de classe média, jovem como todos os demais que estavam em sua companhia naquela casa noturna, como em outras. Os jovens saem muito e se expõem muito. Por isso ficam à mercê de donos de casas noturnas e de organizadores de festas que se comportam como justiceiros nazistas. Não há muito mais o que fazer por Djalma, exceto lamentar a sua situação. Cada família cujos filhos sofrerem esse tipo de violência não deve procurar a casa noturna porque será desrespeitado. É preciso acionar judicialmente esse tipo de gente truculenta para que respeitem a vida em sociedade.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
Comentários