Boom do álcool dobra valor de terra e usina
Há três anos, o investidor interessado em comprar uma usina pronta pagaria o correspondente ao faturamento anual da empresa. Hoje, a negociação não sai por menos de dois faturamentos.
Esses valores estão elevados porque a entrada em operação de uma usina nova demora de três a quatro anos, e muitos investidores querem aproveitar as oportunidades do momento. Por isso, pagam caro.
Esses holofotes voltados sobre o álcool fizeram crescer as empresas nacionais, atrair capital estrangeiro e despertar até o interesse de outros setores da economia para a cana-de-açúcar.
Essa recuperação, que vem ocorrendo nos últimos anos, devolveu vida ao setor, que passou por maus momentos na virada da década, quando muitas empresas apresentaram sérios problemas financeiros.
Investimento externo
A forte demanda mundial pelo álcool está trazendo o capital estrangeiro, que detém o controle de 18 usinas, com capacidade de moagem de 28 milhões de toneladas por safra. Esse volume representa 6,3% do total do país.
Com esse apetite dos investidores externos, "daqui a cinco anos 9,6% da moagem estará nas mãos de estrangeiros, o que vai corresponder ao processamento de 70 milhões de toneladas", diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Eles vão ter 27 unidades.
Além do capital estrangeiro, o setor atrai também grupos nacionais. Esses investimentos vêm das próprias empresas já pertencentes ao setor, de distribuidoras independentes de combustíveis, da construção civil e da pecuária.
No caso das distribuidoras, as independentes já dominam dez unidades de produção. Já a pecuária entra no setor fornecendo terras para o plantio de cana. Inflação da terra
O imenso canavial que se tornou São Paulo --o Estado detém 62% da produção de cana-de-açúcar do país-- inflacionou o valor das terras, principalmente as próximas às usinas. Essa pressão da cana está elevando o custo de produção de outros setores, como o de grãos e até da pecuária. Os dois últimos passaram a disputar as terras com o setor sucroalcooleiro, bastante capitalizado.
Em algumas áreas do Estado, as terras apropriadas para o plantio de cana-de-açúcar custam hoje duas vezes o valor que custavam em 2002.
Jacqueline Dettmann Bierhals, do Instituto FNP, diz que "a cana avança sobre as áreas de grãos, laranja e pastagem". Citando dados do "Relatório Bimestral do Mercado de Terras", do IFNP, ela diz que, "em algumas regiões paulistas, a terra para cana já atinge R$ 21 mil por hectare".
A demanda por terra para cana ocorreu em um momento em que tanto o setor de grãos como o de pecuária perderam força. As terras para grãos subiram 244% do início de 2002 a agosto de 2004 em Presidente Prudente (SP), por exemplo, mas, com a queda das commodities, recuaram 29% daquela época até fevereiro, conforme dados do Instituto FNP.
A área de pastagem, que já havia perdido espaço para a soja até 2004, agora perde para a cana. A valorização nos últimos cinco anos foi de 66%.
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