Cuiabá: Criança não recebe atendimento em policlínica e morre
Valéria (08) estava com dores no corpo e febre mas não foi atendida na policlínica do bairro CPA. O pai dela, o motorista Valmir Lima, não sabia o que fazer. "Moro lá no CPA 4, venho todo dia aqui à tarde para ver se consigo consulta pra ela, mas não encontro médico", reclamou. "Ela tá passando mal. Vou ser obrigado a ir para o Pronto-Socorro, porque aqui não encontro nada e nem lá no CPA 4. Tá difícil, viu? Tenho que pegar ônibus pra ir lá, porque aqui não aparece médico nenhum", concluiu o pai da garota.
No início da manhã não havia médico na policlínica do CPA. "No momento não tem médico. Às 10h30 vai chegar um clínico", disse uma funcionária da policlínica à equipe de reportagem da TV Centro América. O professor Edvaldo Barros estava à espera de atendimento. "Eu estou desde sexta-feira tentando conseguir uma consulta para fazer um exame de diabetes e não tem clínico aqui. Tem bastante pessoas aqui, pessoas de idade que chegam aqui às 4h, 5h da manhã e não vem médico. Há um mês eu vim aqui para fazer o exame de diabetes, mas não tinha o aparelho". Barros foi mandado para os postos de saúde do CPA 3 e 4, mas em nenhum dos dois havia o aparelho necessário para o exame.
Na policlínica do bairro Planalto, só um médico - um clínico geral - estava atendendo nesta manhã. Quem precisou de um pediatra ficou esperando. "Estou esperando desde ontem. Estou tentando nas policlínicas do CPA, aqui do Planalto. Isso aqui se trata de um posto de saúde de um bairro, de vários bairros, onde as pessoas pobres têm que ter pelo menos isso, o mínimo, que é a saúde. Os médicos deveriam ter consciência e vir atender", disse o aposentado Fausto Antônio, que estava com um bebê no colo. A doméstica Maria Neusa da Silva também não conseguiu atendimento para o filho, que está com febre e vômito.
A aposentada Aparecida de Almeida percorreu, sem sucesso, policlínicas dos bairros há três dias à procura de um ortopedista, por causa de dores no pé direito. "Eu acho isso um desrespeito, porque já tem três dias que ela não dorme por causa da dor no pé. A gente foi ao Pronto Socorro e eles só deram uma injeção e mandaram a gente voltar para a policlínica", explicou Rosivaldo Silva, que acompanha a aposentada. "Ao chegar lá, uma funcionária disse para irmos ao posto de saúde pegar uma guia e levar para a assistente social agendar uma consulta. Fizemos isso, mas mesmo assim ela [Aparecida] não pôde ser atendida. Só na quarta-feira da semana que vem", completou Rosivaldo.
A falta de médicos nas policlínicas, principalmente pediatras, está sobrecarregando o atendimento no Pronto Socorro. O número de consultas diárias dobrou nas últimas semanas. Hoje de manhã, a pediatria estava lotada e os três médicos não estavam dando conta do atendimento. "O paciente chega aqui e fica sem ser atendido O que ele pode enfrentar, devido ao não-funcionamento das policlínicas, dos postos de saúde, é a questão da demora, o tempo. E isso prejudica o cidadão", frisou o superintendente de Gestão do Pronto Socorro, Euclides Santos.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, de cinco policlínicas, apenas em duas havia pediatra ontem. O motivo da ausência dos médicos está sendo apurado pela Secretaria. Os faltosos podem responder a processo administrativo. Desde janeiro, a Secretaria de Saúde recebeu 50 pedidos de demissão mas, de acordo com a Prefeitura, estas vagas já estão sendo preenchidas.
Sobre o caso do garoto que morreu sem receber atendimento, a Polícia Militar do Pronto Socorro já acionou a Delegacia de Homicídios para apurar a causa da morte do menino.
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