Em 2007, milho avança em reduto da soja
Além disso, o plantio de variedades precoces de soja na safra de verão, que permitiu colher o produto mais cedo em algumas regiões, também estimulou o crescimento da área de safrinha no Estado. A chuva acabou atrapalhando a colheita dessas variedades precoces de soja, em regiões como Sorriso e Lucas do Rio Verde, mas grande parte dos produtores plantou o milho mesmo com atraso.
Pelas estimativas da Conab divulgadas na terça-feira passada, a área de safrinha no Estado deve subir 26%, para 1,148 milhão de hectares. Previsão da Agroconsult feita antes do início do Rally da Safra, expedição que avalia lavouras do país, era de uma área de 1 milhão de hectares de milho safrinha no Mato Grosso.
Guilherme Bastos, diretor da Agroconsult, avalia que a área pode ser maior do que a prevista anteriormente, garantindo "uma boa safrinha" no Estado. Apesar do atraso do plantio, diz, o "viés é de alta [da produção] para o milho". Ele lembra, entretanto, que a safrinha é uma cultura mais sujeita a riscos climáticos.
Em Nova Mutum, o grupo Vanguarda, do deputado estadual Otaviano Pivetta (PDT), ampliou a área de safrinha em 20% este ano, para 40 mil hectares. Segundo Mário Domanski, gerente da fazenda Ribeiro do Céu, que pertence ao grupo, a produtividade deverá ficar entre 70 e 80 sacas por hectare. Além de grãos e algodão e uva, o Vanguarda também produz suínos e bovinos.
A perspectiva de preços melhores para o milho também levou o produtor Neuri Secchi a aumentar a área de safrinha para 500 hectares, bem acima dos 180 hectares de 2005/06. Segundo ele, a saca de milho, que foi negociada a R$ 8,00 na safrinha passada tem preço de US$ 4,60 para entrega em julho e agosto deste ano.
Produtor de suínos e de grãos, o vice-prefeito de Nova Mutum, Alcindo Uggeri, plantou uma área de safrinha cerca de 80% maior este ano. Foram 1.800 hectares, e ele espera uma produtividade média de 70 sacas por hectare, a mesma da safrinha passada. "Ampliamos, principalmente, por causa da produção de suínos", afirma Uggeri.
Em Sorriso, a área de safrinha poderia ter crescido até mais não fossem as chuvas que atrapalharam a colheita da soja de verão - cultura que precede o milho. "A estimativa inicial era de 220 mil hectares, mas a área deve ficar em 200 mil", estima o secretário de agricultura do município, Fabiano Marson. De qualquer modo, o avanço é significativo - de 81% - em relação à safrinha passada, quando foram plantados 110 mil hectares em Sorriso.
Darci Potrick foi um dos prejudicados pelas fortes chuvas em Sorriso. "Plantei [a safrinha] com atraso mesmo porque já tinha comprado os insumos", afirma. No Mato Grosso, a recomendação é que o plantio de safrinha ocorra até 20 de fevereiro. Potrick ampliou em 20% sua área de milho, para 6 mil hectares.
Com a antecipação do plantio da soja, o produtor Argino Bedin, de Sorriso, conseguiu se programar para plantar 5 mil hectares de milho na safrinha, 50% mais que no ciclo passado. Além dos preços mais altos do milho, o plantio é estimulado pela necessidade de rotação de culturas e pelo fato de o milho servir como cobertura de solo, diz Bedin. Primo de Argino, Sérgio Bedin, também de Sorriso, plantou uma área de safrinha 75% maior neste ano, em um total de 1.400 hectares.
E o entusiasmo com a produção de milho chegou até a regiões com mais dificuldades logísticas, como Campo Novo do Parecis, no oeste do Mato Grosso. O prefeito e também produtor Sérgio Stefanelo estima que área de safrinha quase dobrará. Segundo o secretário de Agricultura do município, Luiz Fernando Andrade, a área sairá de 45 mil para 80 mil hectares.
Ainda que a expectativa seja de aumento da demanda mundial por milho nos próximos anos, principalmente por causa do etanol nos EUA, Guilherme Bastos não descarta "uma acomodação de preços", caso haja "esfriamento de projetos para produção de etanol" por causa da redução das margens do segmento. Pelas estimativas do USDA, o consumo de milho para produção de etanol atingirá 67 milhões de toneladas em 2007/08 nos Estados Unidos, 22% mais do que na safra atual.
A recomposição dos estoques de milho no Brasil, com a maior oferta - a Agroconsult estima 48,3 milhões de toneladas entre safra de verão e safrinha - também pode ter efeito sobre os preços no segundo semestre deste ano, acrescenta Bastos.
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