Lula vai pedir a Bush redução de taxa sobre etanol
Ontem Lula chamou de “nefastos” os subsídios dados pelos Estados Unidos aos agricultores americanos, após encontro com o presidente alemão, Horst Köhler. O brasileiro afirmou que a pobreza e o terrorismo do mundo só serão superados quando os países pobres puderem exportar seus produtos para o mercado americano e europeu sem barreiras tarifárias.
O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou que, “no fundo”, os Estados Unidos precisam do Brasil para implementar o seu programa de combustíveis renováveis, relata o jornal O Estado de S. Paulo. Mas o governo americano já sinalizou que não atenderá ao desejo de Lula de rever a tarifa do álcool.
Furlan minimizou as resistências do governo americano em reduzir a sobretaxa ao etanol brasileiro, manifestando confiança numa negociação favorável. “Governos não negociam através dos jornais, queremos negociar numa mesa, numa sala fechada”, afirmou.
O ministro disse que o Brasil vai ter o mercado que quiser para vender etanol, mas que a prioridade é atender o consumidor interno e os milhares de carros que aceitam álcool e gasolina.
Organizações sociais e da área de meio ambiente e social temem um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para a produção de etanol, ressalta o Estadão. O maior temor é de que o acordo reduza a produção de outros produtos, sobretudo alimentos, com o avanço de um modelo de monocultura para o etanol.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o álcool brasileiro paga atualmente uma sobretaxa de US$ 0,54 por galão ou US$ 0,14 por litro para entrar no mercado americano.
Por trás da discussão sobre o etanol, a visita de Bush à América Latina, iniciada ontem com a chegada a São Paulo, está a tentativa do presidente americano de reduzir a dependência do petróleo e, por tabela, a influência do venezuelano Hugo Chávez na América Latina. A Venezuela é um dos maiores produtores mundiais de petróleo.
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já adiantou que a aproximação do governo brasileiro com os Estados Unidos não fará o país rever seu relacionamento com Chávez. O país “não tem relações excludentes”, disse anteontem a ministra.
Protestos país afora
A chegada de Bush foi antecedida por uma série de protestos de entidades sociais e críticas do próprio governo brasileiro. Na principal manifestação, pelo menos 17 pessoas saíram feridas do confronto com policiais na Avenida Paulista, em São Paulo.
Milhares de manifestantes que participavam da Marcha Mundial das Mulheres entraram em choque com cerca de 100 policiais. O conflito começou quando os manifestantes resolveram ocupar as duas pistas da Paulista. A autorização era para que apenas um sentido da avenida fosse utilizado. Manifestantes lançaram pedras sobre os policiais, que revidaram com bombas de gás lacrimogêneo e tiros com balas de borracha.
Segundo os organizadores, 15 mil pessoas participavam da marcha. Nas contas da polícia, esse número era de 5 mil. Mas os protestos não se restringiram à capital paulista, única cidade visitada pelo presidente americano nesta passagem pelo país que deve durar menos de 24h.
Houve protestos contra a visita de Bush também no Rio, onde cerca de 400 manifestantes apedrejaram o prédio do consulado dos EUA, que teve algumas vidraças quebradas. Faixas portadas pelos ativistas acusavam Lula de dar “a mão ao diabo”, termo com o qual o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, costuma se referir ao colega americano.
Cerca de 500 pessoas também queimaram um boneco de Bush e uma bandeira americana em Recife. Os cartazes empunhados pelos manifestantes pernambucanos diziam “Bush assassino”, “Bush, tire as patas do Iraque” e “Viva o Iraque”.
Divergências diplomáticas
A visita do presidente dos EUA também foi antecedida por uma nota do Ministério das Relações Exteriores, que protestou anteontem contra o relatório divulgado nesta semana pelo Departamento de Estado americano a respeito da situação dos direitos humanos no país e no mundo. O relatório menciona a tentativa de compra de um dossiê por integrantes do PT contra políticos tucanos e diz que os envolvidos tinham relações estreitas com Lula.
Em nota, o O Itamaraty disse que não reconhece a legitimidade do documento e que o governo não "aceita relatórios elaborados unilateralmente por países, segundo critérios domésticos, muitas vezes de inspiração política".
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), também protestou contra o relatório, que apontou supostos abusos da Polícia Militar de São Paulo. Serra afirmou que gostaria de ver no relatório informações sobre Guantánamo, base norte-americana em Cuba acusada de maltratar prisioneiros.
O Brasil é só a primeira parada da visita que Bush fará por sete países da América Latina ao longo de cinco dias. Ainda esta noite, ele deve desembarcar no Uruguai.
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