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Economia
Quarta - 07 de Março de 2007 às 13:49

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Definição de taxa de juro não é, definitivamente, uma ciência exata. Os integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) analisam as mesmas estatísticas sobre o comportamento da economia, os mesmos relatórios, as mesmas previsões, mas a subjetividade pesa, e eles nem sempre concordam entre si. Nas últimas duas reuniões, o comitê se dividiu: cinco votaram por cortes de 0,25% na taxa Selic; três queriam redução maior, de 0,5%.

Por conta dessas divisões e da maneira hermética como o Copom define a taxa, um economista ouvido por Terra Magazine chega a ver "misticismo" na metodologia do grupo, que está reunido desde ontem e deve divulgar hoje a taxa básica de juros da economia válida até abril, quando haverá o próximo encontro.

Os critérios do Copom são técnicos, em tese, mas as votações levam em conta aspectos ignorados mesmo por economistas com maior trânsito em Brasília. "É muito restrito, muito fechado. Deveria haver gente de fora, até, no Copom, afinal não deveria ser tratar de uma decisão esotérica. Mas vai ver que se trata, não sei", disse um dos economistas ouvidos por Terra Magazine, que preferiu se manter no anonimato.

Por baixo do manto "místico", os analistas conseguem vislumbrar que a tendência do Copom para esta reunião, apesar do movimento de volatilidade das Bolsas a partir da queda chinesa, na terça-feira passada, é de continuar a cortar a taxa básica de juros - hoje em 13% ao ano - no ritmo de 0,25 ponto percentual.

"Ali é uma batalha entre os políticos e o Copom. Se deixar o Copom solto, a essa altura, com essa volatilidade, é capaz até de subir o juro", disse um economista. A crença é de que, na batalha de 6 e 7 de março, "os políticos" vão conseguir uma redução, mesmo que pequena.

Terra Magazine ouviu economistas e analistas para tentar definir um perfil de cada um dos diretores do BC que participam da decisão. É difícil até para eles dar uma idéia clara sobre a postura dos membros do Comitê.

As decisões do Copom não são identificadas e os votos de cada membro não são divulgados. Em 2006, as decisões de corte de 0,5 ponto percentual na taxa Selic foram unânimes. A divergência começou quando passou-se a reduzir a taxa em apenas 0,25 p.p.

Perfis

A começar pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles: formado em Engenharia com mestrado em Ciências da Administração, o goiano de 61 anos não é considerado "do ramo" pelos economistas ouvidos por Terra Magazine. Além disso, Meirelles tem a difícil missão de responder aos desejos da cúpula do Executivo - ansiosa por quedas mais acentuadas na taxa Selic - sem permitir o descontrole da inflação.

O mais ortodoxo do grupo seria o economista gaúcho Afonso Sant'Anna Bevilaqua, de 47 anos. O diretor de Política Econômica do BC participou ontem e hoje de sua última reunião. A saída é por "motivos pessoais", diz Bevilaqua.

Um dos cotados para substituí-lo é Carlos Thadeu de Freitas. (Leia aqui) O possível substituto tem uma visão bem mais heterodoxa do que Bevilaqua. Caso se confirme sua ida para a diretoria do BC, o sinal é de uma tendência a montar uma cúpula menos comprometida com a ortodoxia econômica e mais arrojada nas decisões sobre o rumo da política monetária.

E ainda sobram diretores ortodoxos no Comitê. Rodrigo Telles da Rocha Azevedo, também gaúcho, segue linha parecida à de Bevilaqua. Diretor de Política Monetária do BC, formado pela Universidade de São Paulo, Azevedo foi economista-chefe do banco de investimentos Garantia e diretor-executivo do Credit Suisse First Boston, também de investimentos, cargo que exerceu até 2004.

O Diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, Alexandre Antonio Tombini, 42 anos, terceiro gaúcho do Copom, tem uma visão "um pouco mais flexível" no Conselho, segundo analista consultado pela reportagem. "Mas o diretor de normas não deveria nem votar, como vota. É um cargo quase que administrativo dentro da estrutura do BC", disse a mesma fonte.

Paulo Vieira da Cunha, diretor de Assuntos Internacionais do BC, é "o mais heterodoxo dos membros do Copom". Formado pela Universidade de Chicago, o economista de 58 anos foi economista-chefe do banco HSBC e diretor-adjunto do Banco Mundial.

O carioca Mário Magalhães Carvalho Mesquita, economista de 41 anos, segue também a linha cautelosa, mas é também um tanto "flexível" nas decisões. Mesquita foi economista-chefe do banco ABN Amro Real para o Brasil e também para a América Latina, e economista do Fundo Monetário Internacional entre 1997 e 2000.

Defensor de uma política menos conservadora em relação aos juros é o contabilista Paulo Sérgio Cavalheiro. Com 56 anos, ele é o membro do Copom que há mais tempo está nos quadros do Banco Central - começou a carreira em novembro de 1976. Atualmente é diretor de Fiscalização do banco.

Fechando o quadro de diretores que votam no Copom está Antonio Gustavo Matos do Vale, responsável pelo departamento de Liquidações e Desestatizações do BC. Ex-diretor do Banco do Brasil, o mineiro de 55 anos tem uma visão mais conservadora da evolução da taxa de juros.





Fonte: Terra

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