Repórter News - reporternews.com.br
Nacional
Segunda - 05 de Março de 2007 às 08:49

    Imprimir


Pelo menos 68 familiares de 52 deputados fazem parte da folha de pagamento da Câmara. Os salários, que variam de R$ 720 a R$ 8.040, representam um gasto anual de R$ 3,6 milhões aos cofres públicos, segundo levantamento feito pela Folha de S. Paulo.

A preferência maior dos parlamentares é pelos filhos, que representam 40% das nomeações familiares, mas há também irmãos, mulheres, sobrinhos, primos, cunhados, concunhados e ex-cunhada. O Correio Braziliense havia mostrado que 61 parentes de deputados estavam empregados como secretários parlamentares em 51 gabinetes.

A própria Folha observa que o número de familiares localizado pela reportagem nos boletins administrativos da Câmara é subestimado. A pesquisa só rastreou sobrenomes similares ao do parlamentar, e a maioria dos deputados que assumem o primeiro mandato ainda não nomeou nem metade dos 25 assessores a que têm direito.

Cada parlamentar tem direito a receber R$ 50,8 mil por mês para o pagamento desses assessores. Houve ainda casos de servidores que carregam sobrenomes idênticos ao do parlamentar, mas, pelo fato de o parlamentar não ter sido localizado pela reportagem, esses nomes não foram contabilizados, relatam os repórteres Silvio Navarro e Ranier Bragon.

Só se for proibido "Enquanto houver possibilidade, estou dando a oportunidade a eles. Depois que for proibido, tudo bem", avalia Átila Lins (PMDB-AM), que emprega dois filhos e já empregou outra filha, exonerada em outubro. Assim como ele, outros parlamentares nomearam dois filhos para trabalhar no gabinete, como Arnon Bezerra (PTB-CE), Átila Lira (PSDB-PI), José Santana de Vasconcellos (PR-MG) e Vicente Arruda (PSDB-CE).

"Tem alguma lei que proíbe? Não é imoral porque ela está trabalhando. Quando houver mudança na Constituição, eu exonero e contrato outro", disse Nelson Meurer (PP-PR), que emprega a cunhada.

O nepotismo não é ilegal no Congresso, mas enfrenta duras críticas do Ministério Público e de setores da sociedade. A Câmara tem uma proposta de emenda constitucional que trata do assunto engavetada há cerca de dois anos.

Na lista dos parentes beneficiados, destaca-se o caso de um empregado no gabinete que doou dinheiro para bancar a campanha do futuro chefe. Roberto Tejadas, cunhado do deputado Marco Maia (PT-RS), contribuiu com R$ 7 mil. Ele foi indicado pelo PT para o cargo. "Sou contra o nepotismo, mas o nepotismo em excesso. A lei não pode ser discriminatória com parentes, há casos e casos", afirma Maia.

De acordo com a Folha, alguns dos parlamentares reagiram com irritação ao serem procurados pela reportagem. "Vocês só fazem matéria para f... a gente. Não quer saber se é competente, se não é. Só quer saber se é parente. Se é parente, é f.d.p. E esculacha o nome do parlamentar (...) Pode escrever isso aí", teria afirmado, em entrevista gravada, Jair Bolsonaro (PP-RJ), que emprega familiares da mulher. Minutos depois, sua assessoria telefonou para se desculpar.

Veja abaixo as explicações dadas pelos deputados à Folha:

Leandro Vilela (PMDB-GO): "Não vejo nenhum problema, o que não pode é ter um gabinete com dez ou 20 parentes. Nesse caso, cumprindo as funções, acho normal".

Leonardo Vilela (PSDB-GO): diz que a filha já foi exonerada. A Folha não encontrou a publicação da saída.

Lobbe Neto (PSDB-SP): assessoria apenas confirmou que sua mulher trabalha em seu escritório no Estado.

Luiz Carlos Setim (PFL-PR): informou por meio da assessoria que sua mulher "acompanha sua vida política".

Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES): informou se tratar de um parente de terceiro grau.

Márcio Reinaldo (PP-MG): a assessoria informou que sua irmã trabalha como assessora no Estado.

Marco Maia (PT-RS): "Sou contra o nepotismo, mas o nepotismo em excesso. A lei não pode ser discriminatória com parentes, há casos e casos. No meu caso, o Roberto Tejadas é dirigente do PT desde 1988, é indicação do partido".

Mauro Lopes (PMDB-MG): "Meu filho é funcionário do Dnit e está fazendo um trabalho específico na Câmara. Ele é especialista em transportes e eu era o presidente da comissão de Transportes. Ele ganha só uma gratificação, de R$ 480, porque a lei não permite ele ser requisitado sem salário".

Nelson Meurer (PP-PR): "Tem alguma lei que proíbe? Não é imoral porque está trabalhando. Quando houver mudança na Constituição, eu exonero e contrato outro".

Neucimar Fraga (PR-ES): "Minha irmã trabalha comigo desde que eu era vereador. Dos meus 20 assessores, eu tenho uma irmã, e enquanto a lei permitir ela vai continuar".

Nilson Pinto de Oliveira (PSDB-PA): assessoria informou que o filho do deputado foi exonerado. A Folha não encontrou o registro de saída.

Osvaldo Reis (PMDB-TO): a assessoria informou que não houve interferência política do deputado na nomeação do seu filho para o gabinete do deputado peemedebista Tadeu Filippelli (DF).

Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE): assessoria informou que se trata de um ex-cunhado.

Roberto Balestra (PP-GO): "Nepotismo é muito difícil, parente é pai, filho e irmão. Se o funcionário trabalha com dignidade e honradez, não vejo problema".

Rodrigo Rollemberg (PSB-DF): disse que não houve interferência política porque seu sobrinho já trabalhava no gabinete do deputado Mauro Lopes antes de ele tomar posse de seu primeiro mandato.

Sandro Matos (PTB-RJ): "Ele [ seu irmão] é meu assessor de marketing, é meu braço direito e esquerdo. Nesse caso, não é um problema, mas uma solução pela responsabilidade dele".

Tadeu Filippelli (PMDB-DF): a assessoria argumentou que não se trata de familiar porque a funcionária é mulher do seu cunhado.

Vilson Covatti (PP-RS): informou por meio da assessoria que, "mediante à lei, cunhado não é parente".

Abelardo Camarinha (PSB-SP): "De 25 nomeações que eu tenho direito, nomeei um membro da família, que é minha irmã, que é meu braço direito há vários anos. (...) Não há nenhuma imoralidade nisso".

Flaviano Melo (PMDB-AC): "Ela [a mulher] é funcionária do Senado, quando eu cheguei lá, em 91, era divorciado, e ela era funcionária da Casa desde os anos 80. (...) Não é indicação minha, faço questão de não me meter nisso".

Ademir Camilo (PDT-MG): diz que a mulher era concursada como professora, em Teófilo Otoni (MG), e que foi cedida para a Câmara para acompanhar o marido.

Átila Lins (PMDB-AM): afirma que, enquanto não for proibido, não vê problema em contratar os dois filhos. "Um percentual que não chega nem a dez por cento [do que um deputado pode contratar]".

Os demais deputados citados não responderam.”





Fonte: Congresso em Foco

Comentários

Deixe seu Comentário

URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/238669/visualizar/