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Nacional
Domingo - 04 de Março de 2007 às 05:16

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Cassado pela Câmara sob acusação de envolvimento no esquema do mensalão, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu atendeu a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vai segurar por no mínimo cinco meses o lançamento da campanha por sua anistia política. Mas promete fazer até greve de fome diante do Supremo Tribunal Federal (STF) para ser julgado.

"Não posso aceitar que eu termine essa história como chefe da quadrilha", diz o deputado cassado, em conversas reservadas. "Quero ser julgado para provar minha inocência."

Depois de se encontrar separadamente com Lula e com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), Dirceu decidiu adiar o movimento em defesa de sua anistia para o segundo semestre. Até lá, tentará reconstruir sua imagem, seriamente abalada pelo escândalo.

Lula disse a Dirceu que seria mais conveniente para o Planalto que ele aguardasse a decisão do STF para lançar a campanha. Avalia que, nesse início de segundo mandato, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - que tem por objetivo destravar a economia - na agenda, o pedido de indulto provocaria desgaste ao governo.

Idas e vindas

Na prática, o relacionamento entre o presidente e o seu ex-braço direito é marcado por idas e vindas. Convidado para assistir à segunda posse de Lula, em 1º de janeiro, Dirceu não apareceu. A um emissário do Planalto, mandou recado provocativo: "Diga ao Lula que estarei na posse dele em 2014".

Agora, o ex-ministro concordou em iniciar somente depois de julho a coleta de 1,5 milhão de assinaturas para apresentar projeto de iniciativa popular pela anistia. Avisou Lula, porém, que não pode vincular a campanha ao veredicto do STF.

A expectativa do grupo de Dirceu é que o STF se manifeste entre agosto e setembro sobre a denúncia do procurador-geral de República, Antonio Fernando de Souza, que apontou uma "sofisticada organização criminosa" no coração do governo, chefiada por Dirceu. Se o Supremo aceitar a denúncia, é provável que o processo tramite durante uma década até o julgamento, por causa da morosidade da Justiça.

"Aí é a impunidade", argumenta Dirceu, sempre que expõe o assunto aos petistas. "Não dá para aceitar isso." É nesse momento que ele exagera na retórica: fala até em fazer greve de fome diante do STF para pedir que o processo seja julgado até 2009. Em novembro de 2005, o ex-ministro teve os direitos políticos cassados pela Câmara por oito anos.

Contrários ao perdão

Nos encontros com amigos, Dirceu avalia que o problema não é obter as assinaturas em defesa de sua anistia, embora pesquisa que ele próprio encomendou revele que 68% dos brasileiros são contrários ao perdão. No seu diagnóstico, o desafio consiste em mudar a imagem diante da opinião pública.

Assessorado por uma equipe de especialistas em marketing político, Dirceu afirma que intensificará as viagens pelo País com esse objetivo. Ex-presidente do PT, pediu ao partido que lance uma campanha em defesa da reforma política "para acabar com o caixa 2" e quer se dedicar a temas como juventude e educação.

Aos interlocutores, diz ter planos de se candidatar a deputado federal, em 2010, caso consiga a anistia. "Se bem que falar em 2010 agora é como andar na chuva sem pára-brisa: não dá para enxergar o que vai acontecer", compara.

Anistia

Cassado em 1º de dezembro de 2005, sob suspeita de envolvimento no esquema do mensalão, José Dirceu perdeu os direitos políticos e ficou inelegível até 2015. O ex-ministro nega a acusação e diz que as investigações não levantaram provas documentais contra ele.

O deputado cassado tem planos de voltar à cena política e vem articulando sua anistia ainda este ano. Dirceu depende de um projeto de lei que precisa ser apresentado na Câmara. A proposta pode ser de um deputado apenas ou da sociedade - como planeja o ex-ministro.

Caso a iniciativa seja da sociedade, Dirceu precisa de nada menos que 1,5 milhão de assinaturas, o que, segundo ele, lhe daria respaldo popular para voltar. De todo o jeito, o projeto de anistia precisa entrar na pauta e ser votado. Com a vitória do petista Arlindo Chinaglia na presidência da Câmara, poderá ser mais fácil para o deputado cassado conseguir o ´perdão´ e retomar seus direitos políticos.





Fonte: Estadão

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