Reforma deve ser pequena na Esplanada
Em conversas reservadas, Lula tem afirmado que, se dependesse dele, nem mexeria na equipe porque, no seu diagnóstico, o governo “está dando certo”, com menos estrelas e mais técnicos. Pelos últimos cálculos do presidente, as trocas previstas para a segunda quinzena de março não devem atingir nem um terço dos 34 ministros.
Os maiores problemas residem em questões que envolvem ruidosas disputas entre governistas e imbróglios na seara do PT. Apesar de se divertir testando o humor da base de apoio com informações contraditórias, Lula ainda planeja levar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para o primeiro escalão. A dúvida é como encaixá-la no Ministério das Cidades sem causar grandes traumas para o PP, que hoje administra a pasta. A Executiva Nacional do PT reforçará amanhã a indicação de Marta.
O segundo impasse diz respeito à indicação do ministro da Saúde. Lula acertou com o governador do Rio, Sérgio Cabral, a nomeação do médico José Gomes Temporão, mas a bancada do PMDB na Câmara esperneia. Motivo: tem outros cinco pré-candidatos à vaga, todos deputados, e não aceita Temporão.
O presidente também tem dúvidas sobre como contemplar o PDT, o mais novo integrante da coalizão. Quer desalojar o PT da Previdência Social para entregar ao PDT, desde que o nomeado seja o deputado Miro Teixeira (RJ), ex-ministro das Comunicações. Os pedetistas, porém, lutam para emplacar Carlos Luppi, presidente do partido.
Dissabores
O ringue político reserva outros dissabores a Lula, que pretende pôr o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) na Integração Nacional, mas procura uma fórmula para curar as feridas do PSB de Ciro Gomes - machucado com a derrota de Aldo Rebelo (PC do B-SP) na eleição para o comando da Câmara. O mercúrio do Planalto consiste em oferecer compensações em estatais aos socialistas, que perderiam Integração, mas permaneceriam em Ciência e Tecnologia.
“O PSB é aliado de primeira hora: estará não apenas no ministério como no segundo escalão”, diz o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente da legenda.
A indecisão de Lula atinge, ainda, o terceiro andar do Planalto, onde fica o seu gabinete e o do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, responsável pela articulação política do governo. Ali não é segredo para ninguém que ele será remanejado para a Justiça, no lugar de Márcio Thomaz Bastos. Mas há um nó a desatar: quem ocupará a cadeira de Tarso. Lula sondou o ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia (PTB), que resistiu, mas ainda pode mudar de idéia. Outra opção é o ex-governador do Acre Jorge Viana, do PT.
Todas essas variáveis, aliadas à convenção do PMDB - marcada para 11 de março, com o objetivo de escolher a nova cúpula do partido -, fizeram Lula adiar novamente a reforma. No caso do dividido PMDB, há uma avaliação unânime: é melhor o Planalto aguardar o resultado da queda-de-braço entre o deputado Michel Temer (SP), que comanda o partido e é candidato à reeleição, e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim para saber com quem negociar os cargos. Jobim tem o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Ao que tudo indica, no entanto, Lula está gastando muito tempo e energia política para pouca mudança. “A reforma vai ser moderada, apenas com o objetivo de ajustar o governo à coalizão política e ao cumprimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, argumenta Tarso, com a confiança de quem já tem o destino garantido. “O timing do presidente é diferente: nós olhamos uma parte e ele precisa ver todos os lados”, justifica.
Na prática, porém, a dificuldade de Lula em definir situações envolvendo auxiliares é velha conhecida dos petistas, embora ainda cause espanto nos aliados. Thomaz Bastos, por exemplo, pediu para sair ainda no ano passado, fez várias despedidas públicas, mas continua na Esplanada até hoje, a pedido de Lula. “Já disseram que estou parecendo o Sílvio Caldas. Eu concordo”, afirma o titular da Justiça, bem-humorado, numa referência aos infinitos “adeus” do cantor.
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