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Cidades/Geral
Quinta - 22 de Fevereiro de 2007 às 07:59

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Márcio’ tem 35 anos, trabalha durante o dia e freqüenta um curso universitário noturno. Do ponto de vista legal pode ser considerado um cidadão exemplar. Nunca foi multado, preso ou respondeu a processos. Apesar disso, ele e outros quatro amigos – dois também universitários e todos trabalhadores- apanharam da polícia e, durante alguns momentos, dividiram uma cela do CISC com um acusado de homicídio e um suspeito de tráfico de drogas. O crime de ‘Márcio’ e seus amigos: ser gay.

A história acima foi relatada na tarde desta quarta-feira (21) à direção do grupo GLS de Defesa dos Direitos Humanos Vida Ativa e aconteceu em Rondonópolis. “Márcio” (o nome real foi preservado para evitar retaliações), também conversou com a reportagem do site Primeira Hora e deu detalhes do caso, já classificado como o primeiro registro oficial de conduta homofóbica neste ano no município.

Tudo teria começado na madrugada de segunda feira, no Rondonfolia, o carnaval popular realizado pela Prefeitura no espaço do antigo aeroporto municipal. Na saída, ‘Márcio’ encontrou um amigo que acabara de ser assaltado e foi cobrar satisfações de um grupo de policiais militares que estava próximo.

“Nesse momento começou o inferno. Um deles me imobilizou com uma gravata e os outros se juntaram. Um policial pressionou minha traquéia e eu não conseguia respirar. Quando foram me colocar na viatura um deles perguntou por que eu estava olhando a insígnia dele. Eu disse que não estava fazendo nada e ele respondeu: cala a boca seu bicha fdp* ou você vai morrer nesta viatura agora”, disse ‘Márcio’.

O policial que fez as ameaças foi identificado como Lourenço. Os demais estavam com coletes que tampavam os nomes e as patentes, impedindo a identificação. Todos teriam participado da sessão de agressões aplicadas contra as cinco vítimas.

Colocado na viatura com os outros quatro amigos, Márcio conseguiu pegar um celular e ligou para uma amiga que trabalha no Fórum de uma cidade vizinha e relatou o caso. Como a amiga tem contato com delegados de Rondonópolis, Márcio achou que o tormento havia acabado. Mas enganou-se. Levado ao CISC o grupo ficou exposto durante algum tempo na entrada da sede e depois foi levado para uma cela – onde estavam os outros dois presos citados acima.

“Eles nos deixaram lá por algum tempo e depois disseram que poderíamos ser liberados desde que assinássemos o boletim de ocorrência. Não lemos e nem recebemos cópia desse BO. Fomos coagidos a assiná-lo”, denúncia.

Depois de ser liberado ‘Márcio’ foi para casa e não saiu mais. Aguardava o fim do feriado prolongado para buscar auxílio no grupo GLS. Ele disse que ainda tem medo e que não dorme direito desde então. Mesmo assim ele está disposto a levar a denúncia adiante, exigindo um posicionamento da PM e do Poder Judiciário sobre o assunto.

“Tenho certeza que as agressões foram motivadas pela nossa condição de gay. Ninguém esboçou reação, nenhum de nós é bandido ou estava lá fazendo arruaça. Nós, como todo cidadão, devemos ser respeitados e tratados com dignidade. Se ninguém fizer nada agora, no ano que vem estes policiais estarão mais homofóbicos ainda. O ódio deles atingirá uma dimensão maior e mais prejudicial”, alerta Márcio.





Fonte: Primeira Hora

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