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Internacional
Segunda - 19 de Fevereiro de 2007 às 07:15

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Um escritor poderia ter sonhado com o fraldão que Lisa Nowak, capitã da Marinha, astronauta e mãe (casada) de três filhos, vestiu para não interromper uma viagem de 1.500 quilômetros para enfrentar a mulher que acreditava estar entre ela e o objeto de seu afeto, outro astronauta.

Há também a pára-quedista detida na Bélgica depois de ter sabotado o equipamento de outra pára-quedista e observá-la cair 4 mil metros para a morte, tudo por suspeitar que seu namorado tinha um caso.

O que pensar do amor que impele pessoas aparentemente racionais a comportamentos tão cegamente irracionais? 'Há pouquíssimas coisas na vida que desejamos tanto quanto estar ligado a alguém que amamos', explica o psicólogo Arthur Aron, da Universidade Estadual de Nova York. 'Ele vence o desejo pela riqueza, pelo poder e até pela vida.'

Alguns pesquisadores argumentam que a questão é química. A antropóloga Helen Fisher, da Universidade Rutgers, submeteu 15 pessoas que estavam loucamente apaixonadas e haviam sido rejeitadas recentemente a uma ressonância magnética. As leituras mostraram uma diminuição do sangue na área do cérebro associada à tomada de decisões e um aumento da atividade no sistema de compensação da dopamina (Helen batizou de 'sistema de desejar-procurar', associado à ânsia e à assunção de grandes riscos). Também observou uma atividade maior em áreas associadas à dor física e a distúrbios obsessivo-compulsivos.

O quadro geral era o que Helen chama de 'raiva pelo abandono'. 'Você tem uma pessoa com uma enorme energia e motivação, um desejo ardente e com a atenção concentrada, disposta a assumir grandes riscos, sofrendo dor física, tentando controlar sua raiva, e pensando obsessivamente em alguém', afirma ela. O amor, nessa interpretação, é realmente a droga.

PSICOLOGIA

Pessoas que vão além dos limites geralmente carecem de capacidade para fazer julgamentos morais ou sofrem algum tipo de distúrbio mental. Claro, 'estar apaixonado não é um distúrbio', diz a psicóloga Pamela Regan, da Universidade do Estado da Califórnia.

As pessoas que sofrem de uma obsessão podem ter desenvolvido um estilo errado de apego. Elas cresceram com um pai ou uma mãe emocionalmente distante e se sentem impelidas a garantir um laço estreito com outra pessoa - mesmo se, e talvez especialmente se, essa pessoa for inacessível.

O documentário Crazy Love conta a história de Burt Pugach, que em 1959 ficou tão obcecado com a mulher com quem estava saindo que contratou bandidos para jogarem lixívia nos olhos dela, cegando-a permanentemente. Maior loucura ainda: quando ele saiu da prisão, ela o desposou. Tanto Pugach como a mulher tiveram mães distantes ou emocionalmente insensíveis. E para Dan Klores, realizador do filme, faz sentido que eles quisessem estar juntos; ambos tinham um temor profundo da solidão.

Em 2003, quando Clara Harris estava em julgamento no Texas por atropelar o marido adúltero, os advogados tiveram de excluir vários jurados porque eles contaram experiências parecidas. Uma mulher contou como havia machucado o marido com um caminhão depois de o encontrar com outra mulher. Um homem recordou como foi acusado de agressão depois que a esposa o enganou.

DISCERNIMENTO

Mas a maioria de nós não dirige 1.500 quilômetros e espirra gás de pimenta em alguém numa garagem de aeroporto no meio da noite, como Nowak fez.

Existe o que Pamela chamou de 'uma área cinzenta entre a normalidade e a obsessão'. 'Não percebemos que estamos sendo impertinentes quando enviamos um e-mail ou uma mensagem de texto a alguém, e muitas vezes os destinatários não são claros em sua recusa.'

Mas quando a rejeição é clara, prosseguiu Pamela, pessoas que têm um desenvolvimento mental normal percebem que a mágoa acontece, é penosa, vai doer - mas vai passar. Para Helen, a coisa se resume a controlar melhor os impulsos. 'Imagino que quase todo o mundo neste planeta quis espreitar alguém em algum momento, mas nós nos contemos', diz.

Isso não significa que se pode necessariamente detectar algum elemento do comportamento predatório. 'Para muitas pessoas, elas simplesmente não estarão numa situação que as estresse de tal modo que seu processo normal de filtragem seja anulado', disse James Hollis, diretor do Houston Jung Center e autor de Why Good People Do Bad Things (Por que pessoas boas fazem coisa más).

Ninguém sabe ao certo por que Lisa Nowak se comportou daquele modo, e pessoas realizadas - homens ou mulheres - não são nem mais nem menos propensas a tais comportamentos. Mas, como diz Helen, 'qualquer registro policial pode mostrar que isso não acontece só com astronautas'.




Fonte: THE NEW YORK TIMES

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