PP ameaça rebelião se Lula der Cidades para Marta
Na cadeira cobiçada por Marta está sentado Márcio Fortes, homem do PP. Em reunião com a direção do partido, na última terça-feira (13), Lula prometera que não buliria com Fortes. Cogitava, àquela altura, acomodar Marta na pasta da Educação. O PT já parecia conformado. Porém, Lula ensaia uma meia-volta.
Conforme noticiado aqui no blog, na noite passada, Lula hesita em demitir Fernando Haddad, o atual ministro da Educação. Acha que trocá-lo por Marta pode não ser um bom negócio. Sob intensa pressão do PT, voltou a considerar a hipótese de entregar a pasta das Cidades para Marta. E ateou fogo na bancada do PP.
“O Lula prometeu a nós o ministério das Cidades. A possibilidade de uma mudança de posição não passa pela cabeça de ninguém”, disse o deputado Mário Negromonte (BA), líder do PP na Câmara, a um de seus liderados. “Se isso acontecer, como é que o presidente vai governar? Ninguém mais vai confiar nele.”
Negromonte tem fundadas razões para estar irritado. Ele era um dos presentes à conversa em que Lula assegurara a vaga de Márcio Fortes, na terça-feira. Foi ao Planalto acompanhado do deputado Nélio Dias (RN), presidente do PP. Testemunhou o encontro o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais).
“O ministério das Cidades é de vocês”, disse Lula. “E quem vai ser o ministro?”, perguntou Negromonte. “Vou manter o Márcio Fortes. Ele é da confiança de vocês? Atende aos interesses do partido?”, quis saber Lula. E Negromonte: “É da nossa inteira confiança e atende plenamente o partido.”
Feito o acordo, Negromonte perguntou: “Posso avisar ao ministro [Márcio Fortes]”. E Lula: “Pode.” O líder do PP, emendou outra pergunta: “Posso informar à imprensa?”. “Pode”, autorizou o presidente. Não é só. Ao relatar o encontro do Planalto a deputados de sua bancada, Negromonte contou que o nome de Marta Suplicy foi mencionado na reunião.
“A Marta também quer ir para o ministério das Cidades, mas ela vai ser candidata a prefeita [de São Paulo, em 2008]. E não acho bom”, disse Lula. Negromonte e Nélio Dias apenas ouviram, em silêncio. Seguiram-se elogios rasgados do presidente a Márcio Fortes. Ao sair do Planalto, o líder do PP telefonou para o ministro. Chamou-o para uma reunião na casa de Nélio Dias. Contou-lhe o que acaba de ouvir de Lula.
Depois, o ministro reuniu-se com os 42 deputados do PP. Fizeram planos para o futuro, numa atmosfera de lua-de-mel. Negromonte contou à bancada que, além de confirmar Fortes, Lula dissera que manteria no cargo também o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto, outro apadrinhado do PP.
A possibilidade de perda do ministério das Cidades deixou atônito o PP. Em clima pré-insurrecional, um deputado perguntou a Mário Negromonte qual será a reação do partido caso Lula ofereça outra pasta, como compensação.
“É simples”, respondeu Negromonte. “Vou dizer o seguinte: ‘Presidente, não me leve a mal, não é nenhum capricho, mas isso é inaceitável. É uma forma de enfraquecer a gente. Se nós somos aliados fiéis, se o senhor considera o ministro competente, como é que podemos aceitar a perda do ministério?’”
Pois é justamente o que Lula pensa em fazer. Em privado, o presidente diz que pode transferir Márcio Fortes para o ministério da Agricultura. Na audiência de terça, Nélio Dias, o presidente do PP, reivindicara a Agricultura. Mas seria um acréscimo, não uma alternativa ao ministério das Cidades. Lula ficou de pensar. Disse que voltaria a conversar depois do Carnaval. Se as lideranças do PP estiverem falando a sério, o presidente corre o risco de sambar.

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