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Nacional
Domingo - 18 de Fevereiro de 2007 às 05:40

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Os altos lucros exigidos pelo policial civil conhecido pelo apelido de Robocop e pelo bombeiro de nome Girão, que chefiam milícias na Gardênia Azul e em outros cinco pontos de Jacarepaguá, incomodam até antigos aliados. A cobrança para garantir a segurança do comércio local e a maioria dos serviços oferecidos nesses bairros aborrece moradores e comerciantes, que, temendo represálias, acabam pagando calados.

Mas há quem proteste com veemência contra a pressão dos milicianos, apesar de também explorar negócios ilícitos. Em relatório de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça, um homem identificado como Sandro reclama por telefone com o agente da Polícia Civil Fábio Menezes de Leão, o Fabinho, preso em dezembro pela PF durante a Operação Gladiador.

Fabinho, que faz parte dos "inhos", referência aos apelidos dos inspetores que seriam ligados ao ex-chefe de Polícia Civil e atual deputado estadual Álvaro Lins, esbraveja: "Eles querem isso aí e estão quase conseguindo. A gente é inimigo agora. Então, quem declara guerra dá direito do outro fazer o mesmo". Segundo uma fonte que participou da investigação, Robocop e Girão estariam cobrando R$ 5 mil por semana para que seus homens fizessem a segurança de depósitos de gás, mercados, açougues, casas de material de construção, máquinas de caça-níqueis e bingos de propriedade do grupo de Fabinho na região.

A PF apurou que Fabinho comprou uma picape Toyota Hilux SW, zero quilômetro, blindada, no valor de R$ 190 mil, para ser usada por Álvaro Lins. De acordo com a investigação, Fabinho seria dono de pelo menos 80 quitinetes em três prédios construídos na Gardênia Azul e estaria alugando cada espaço por R$ 300.

Os investigadores federais constataram ainda que Ana Cristina Araújo da Conceição, mulher do inspetor Hélio Machado da Conceição, o Helinho, que também está preso e seria sócio de Fabinho, possui em seu nome os veículos Toyota Hilux CD 4x4, SRV, ano 2003, e Pajero TR4, ano 2006. Os agentes também descobriram que Helinho é dono de Passat blindado, no valor aproximado de R$ 90 mil, além de cobertura no Recreio dos Bandeirantes, avaliada em cerca de R$ 900 mil.

Dupla milionária

No relatório elaborado por equipes da Subsecretaria de Inteligência (SSI) sobre um plano de milícias, que estariam formando um pelotão de 1,2 mil homens para invadir a Cidade de Deus e tomar a favela do domínio de traficantes, os apontados como mentores da ação, Robocop e Girão, conforme O Dia noticiou na terça-feira, são descritos como homens ricos, que usam carros importados, possuem vários imóveis e até barcos de luxo.

A dupla começou a montar seus exércitos na Gardênia Azul sem entrar em conflito com a milícia da Favela Rio das Pedras, que seria controlada pelo inspetor Félix dos Santos Tostes ¿ investigado pela SSI e pelas corregedorias de Polícia Civil e Geral Unificada.

Além de explorarem a venda de gás, imagens de TV a cabo, transportes alternativos, como vans e Kombis, eles cobram para dar permissão para construir qualquer tipo de comércio na comunidade.

Só na Gardênia Azul, os dois milicianos, conforme levantamento feito pelos investigadores, faturam apenas em segurança de mo-radores e comerciantes R$ 360 mil. São cinco mil donos de lojas comerciais obrigados a pagar R$ 15 por semana. A outra parte do rendimento vem de seis mil residência, que pagam R$ 10 por semana. Os chefes do grupo ainda recebem R$ 5 na venda de cada botijão, além de cobrar das casas de material de construção taxa sobre o material vendido.

Uma pelada por "apenas" R$ 400

Em Rio das Pedras, ninguém reclama dos "impostos" que todos são obrigados a pagar aos milicianos sobre qualquer serviço. "Todas as melhorias aqui devemos ao senhor Félix, da associação", afirma um morador, sem se identificar, se referindo ao inspetor Félix dos Santos Tostes, investigado pelas corregedorias de Polícia Civil e Geral Unificada. Uma dessas benfeitorias seria a inauguração, no fim do ano, da quadra de grama sintética.

Segundo os moradores, para desfrutar de uma pelada no tapete verde, os times devem desembolsar R$ 400 para ter direito a jogar quatro partidas no mês. A sede da associação também passa por reformas no vestiário e há planos de construção de banheira de hidromassagem e até de um teto móvel, semelhante ao instalado na quadra da Mangueira. Mas os diretores da associação não falam abertamente dos novos projetos. Dos moradores mais humildes não é exigido pagamento de taxas de segurança.

Mas as cobranças feitas aos donos de casas maiores da comunidade compensam. Segundo levantamento da polícia, pelo menos 2 mil residências pagam R$ 10 por mês. A fatia maior vem das 9 mil lojas que 'contribuem' com R$ 15 por semana. O total do faturamento, apenas com a segurança, da estimativa feita a grosso modo nas investigações, daria um resultado de R$ 560 mil mensais aos milicianos daquela região. Eles ainda são donos de lojas de todos os tipos de produtos que funcionam em Rio das Pedras.




Fonte: Agência O Dia

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