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Internacional
Sexta - 16 de Fevereiro de 2007 às 14:55

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O cristal, uma mentanfetamina barata e que causa forte dependência, se espalha a uma velocidade nunca vista entre a juventude da Cidade do Cabo, onde provoca danos irreparáveis em milhares de adultos muito jovens.

"Estou desesperado. Vivemos um inferno", diz um pai de família da periferia da Cidade do Cabo que tenta conter as lágrimas. Ele se recusa a divulgar seu nome por medo de sofrer represálias dos vendedores da droga, um negócio próspero no bairro de classe média de Kraaifontein.

Ele viu seu filho de 19 anos, até pouco tempo atrás um esportista e bom aluno, se transformar no espaço de dois anos em um viciado violento e ladrão.

"A vida com ele se tornou insuportável", desabafa o pai, de 46 anos, que conseguiu instalar sua família neste bairro ao custo do trabalho duro como motorista.

"Ele nos roubou sapatos, roupas, telefones celulares e câmeras fotográficas. Levou embora carne e pacotes de café", conta. Sem contar o custo dos tratamentos de desintoxicação, que fracassaram.

O cristal, ou tik na gíria do Cabo, chegou à capital parlamentar sul-africana (sudoeste) com maior dureza que o resto do país, destaca Grant Jardine, diretor do Centro de Conselho local para dependentes químicos.

"Nunca se registrou, em nenhuma outra parte do mundo, um auge tão importante do consumo de uma droga em tão pouco tempo", afirma. A metanfetamina "arrasa comunidades inteiras na Cidade do Cabo".

O preço relativamente acessível desta droga a torna atraente para muitos jovens que buscam sensações proibidas. Na África do Sul, onde é fumada em lâmpadas elétricas e um canudinho de plástico cheio de cristais, é vendida de 15 a 30 rands (dois a quatro dólares).

Segundo o Conselho de Estudos Médicos sul-africano (MRC), 46% das pessoas admitidas em tratamentos de desintoxicação na Cidade do Cabo de janeiro a junho de 2006 estavam dependentes na metanfetamina, contra 0,7% quatro anos antes.

O Tik se espalha entre os jovens: de 22 anos em média, cada vez mais jovens e 73% do sexo masculino. A esmagadora maioria (91%) é de mestiços que vivem nos bairros carentes da Cidade do Cabo, onde reinam as gangues.

A metanfetamina, que se apresenta pura, em forma de cristais incolores ("crystals" em inglês), é um poderoso estimulante que reduz a sensação de cansaço e aumenta a euforia.

Conhecida ainda como "speed", "met" ou "ice", a droga era administrada aos soldados do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial e atualmente é usada por caminhoneiros.

Causador de forte dependência, o Tik causa insônia e ataques de angústia, até delírio paranóico. Um em cada dez usuários se torna dependente.

"O drama maior", segundo Grant Jardine, "é a destruição do potencial destes jovens. A eles lhes faltarão etapas fundamentais do desenvolvimento emocional e psicológico".

"A maior parte dos dependentes de Tik recorrem ao crime e à prostituição", destaca. "Sem ter um trabalho, gastam uma média de 3.000 rands por mês em metanfetaminas".

Pela euforia que dá, o Tik favorece ainda comportamentos sexuais arriscados, em um país de 5,5 milhões de pessoas infectadas pelo vírus da Aids, de uma população total de 46 milhões.

A polícia se vê impotente diante das redes solidamente organizadas, que têm "seus próprios médicos, advogados e câmeras digitais de vigilância para proteger seus depósitos", destaca Grant Jardine.

Às vezes são as pessoas que se rebelam. Recentemente, no bairro de Ocean View, os Rastas declararam guerra aos traficantes e afirmaram que não iam tolerar mais "a doença do Tik que devora nossas comunidades".





Fonte: AFP

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