Presidente manterá Meirelles e autonomia do Banco Central
O presidente, segundo um assessor, aprecia o " equilíbrio " existente hoje dentro da equipe econômica. O equilíbrio seria assegurado, de um lado, por um Ministério da Fazenda mais " aberto " e menos ortodoxo, e do outro por um Banco Central e um Ministério do Planejamento " cautelosos " nas áreas fiscal e monetária.
" O presidente não teme as divergências entre ministros e assessores. Considera-as saudáveis porque elas o ajudam a tomar decisões " , conta um assessor, referindo-se às diferenças de opinião existentes entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a diretoria do BC. " Mesmo o Guido está mais próximo do Meirelles nos últimos tempos " , revela um auxiliar de Lula.
Quando o presidente anunciar o novo ministério, Meirelles conversará com os integrantes da diretoria do BC. Há cerca de seis meses, para evitar especulações no mercado, ele pediu aos diretores que não tomassem qualquer decisão, sobre ficar ou deixar o governo, até Lula definir a equipe do segundo mandato. Há a possibilidade de mudanças.
Os rumores mais fortes dizem respeito ao diretor de Pesquisa Econômica, Afonso Bevilaqua. Há quase quatro anos no cargo, ele teria interesse em deixar o cargo por considerar que concluiu sua " missão " - trazer a inflação de 12,5% em 2002 para 3,1% em 2006, um índice inferior à meta fixada pelo governo. Além disso, já teria chegado o momento de iniciar sua vida no setor privado, um caminho natural para ex-diretores do Banco Central.
Bevilaqua é muito criticado pelo PT e pela área política do governo, que o responsabilizam pelo excesso de ortodoxia na condução da política de juros, embora o Comitê de Política Monetária (Copom) tenha outros sete integrantes. O diretor gosta do que faz. Ele tanto pode ficar quanto sair. " Se o Afonso quiser ficar, excelente! Não há óbice a que ele continue cargo " , disse ao Valor um ministro próximo de Lula.
Desde que assumiu o comando do BC, há quatro anos, Meirelles nomeou onze diretores. Os dois últimos - Paulo Vieira da Cunha (Assuntos Internacionais) e Mário Mesquita (Estudos Especiais) - foram escolhidos junto com o presidente Lula, portanto, com o seu aval direto. As nove nomeações anteriores, inclusive a de Bevilaqua, foram acertadas com o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e avalizadas num segundo momento pelo presidente.
Trata-se de uma sutileza importante. Até 2004, o Banco Central era uma autarquia que respondia ao Ministério da Fazenda. Por isso, as nomeações de diretores eram definidas pelo presidente do BC, em conjunto com o titular da Fazenda. Depois que passou a ter status de ministro, uma mudança ocorrida em 2005, o presidente da instituição passou a responder diretamente ao presidente da República. Por essa razão, a definição da diretoria passou a ser acompanhada e definida diretamente pelo presidente Lula.
Esse modelo institucional agrada ao presidente porque, embora deseje acelerar o ritmo de expansão da economia, Lula, segundo assessores, não quer " marola " na área financeira. Seu objetivo é liberar o ministro Guido Mantega para pensar em medidas que destravem o crescimento, enquanto ele mantém a retaguarda fiscal e monetária com Meirelles no BC e Paulo Bernardo no Planejamento.
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