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Nacional
Quarta - 07 de Fevereiro de 2007 às 14:18

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O efusivo José Genoino que circulava pelo Congresso ficou perdido em algum canto da história da política nacional depois da crise do mensalão. Hoje, o deputado eleito José Genoino Neto (PT-SP), 60, é discreto ao emitir suas opiniões e há meses evita a imprensa.

Numa sala com sofás e pufes em tons de azul e lilás, uma platéia de apenas 22 pessoas na Casa do Saber, em São Paulo, descobre que Genoino não defende mais o voto facultativo, prega contra o voto secreto de parlamentares --"quem representa o cidadão tem que se expor e ser cobrado"--, e quer uma reforma política que inclua voto em lista proporcional (conforme o eleitorado nos Estados), dando aos filiados das legendas, e não à direção partidária, o poder de definir os nomes que nela constarão.

Durante a palestra "Reforma Política e Sistema Eleitoral" --cuja inscrição custou R$ 100 por pessoa--, Genoino discorre sobre os papéis do Senado e da Câmara e explica porque é necessário ter maiorias qualificadas para se garantir a governabilidade.

Se a reforma política introduzir a votação por listas, afirma ele, a fidelidade partidária será inevitável. A ligação do candidato com o partido seria umbilical, pois o eleitor deixará de escolher um único nome, uma personalidade política, e fará sua opção de acordo com a lista elaborada pelo partido.

Outra conseqüência da lista seria baratear a eleição: "Você não imagina o que é um cara ficar conhecido em São Paulo, quantos santinhos, quantos lugares precisa visitar".

Então ficamos assim: com lista proporcional (feita pelos filiados), fidelidade e... financiamento público de campanha. E neste único momento em que o petista, de forma marginal, menciona a mais grave crise política do governo Lula. Aliás, as palavras crise e mensalão não fazem parte do repertório do palestrante. Ele prefere invocar a palavra "erro".

"Financiamento privado com representação pública gera crise. O principal erro do meu partido foi não ter feito, em 2003, a reforma política. O PT deveria ter feito campanha pública pela reforma política em 2003. Foi um erro nosso. Não foi compra de voto, não foi quadrilha. Não foi nada disso. Foi financiamento."

Após uma hora de palestra, há um rápido intervalo antes da fase de debates. Genoino identifica a reportagem. É questionado sobre seu silêncio e a forma como evita a imprensa.

"É duro", diz. Fica alguns segundos calado. "Eu vivi os dois lados da mídia. O da unanimidade e o da porrada. Só quero falar de reforma política." E de nada mais? Evitará a imprensa durante todo o mandato? "Você está aqui me ouvindo", desconversa. Visivelmente ressabiado, ele retoma a segunda etapa da palestra. Como se houvesse um pacto de cavalheiros, ninguém fala de mensalão.

A única pergunta incômoda é sobre o julgamento dos pares. "Sempre defendi que o julgamento dos parlamentares fosse feito por outro poder. Pelos próprios pares gera todo tipo de distorção", diz. O outro poder, acrescenta, é o Judiciário --Supremo Tribunal Federal.

Noite chuvosa em São Paulo e a palestra termina, após duas horas de conversa política na sala dos pufes da Casa do Saber --um centro de debates, cursos e palestras extra-acadêmicos.

Ainda ressabiado, Genoino pergunta à reportagem se foi claro. Conta que, depois de 20 anos de mandato (foi deputado de 1983 a 2003, e agora tenta se reerguer politicamente), continuará a morar no Hotel Torres. "É um dos hotéis mais simples de Brasília." Lacônico, não revela perspectivas do novo mandato: "Estou recomeçando". Velhos hábitos permanecem. Mas um novo Genoino chega, de novo, à capital federal.





Fonte: Folha de S. Paulo

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