Discursos ressaltam responsabilidades e desafios da magistratura
Realizada na sala de sessões do Pleno do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso, a cerimônia transcorreu em clima de intensa alegria sem, entretanto, que fossem esquecidas as responsabilidades que acompanharão os empossados.
Além de "parabéns" e "boas-vindas", palavras como "desafio", "dificuldades" e "renúncia" marcaram as manifestações ocorridas durante a solenidade.
"Hoje vocês aqui estão na condição de vencedores. É justo e razoável que se sintam plenos de orgulho já que poucos chegam até aqui", lembrou a presidente do Tribunal, desembargadora Maria Berenice Carvalho Castro Souza. "A partir de agora, além de usar a toga, merecerão o honroso título de 'excelência'. Este é o título destinado às maiores autoridades do país. Por isso enorme responsabilidade pesa sobre seus ombros jovens", enfatizou.
Durante seu discurso, a desembargadora disse também que o exercício do cargo, em sua plenitude, exige do juiz atributos que farão dele não um mero aplicador de lei mas alguém que constrói a paz social mediante decisões e atitudes nas quais se revele profundo conhecimento jurídico, simplicidade, mansidão de espírito e benevolência, inerentes àqueles a quem compete servir. "Nós, magistrados, devemos ser servidores por excelência. Nunca nos esqueçamos que, oculto em cada processo, estão seres humanos, aflitos, que esperam que seja feita apenas justiça", exortou.
Em nome da Associação dos Magistrados do Trabalho, o juiz João Humberto Cesário ressaltou que, apesar da conhecida dedicação e persistência que a aprovação em concursos para a magistratura requer, este é tão-somente o primeiro desafio. "Um processo é mais que um número. Nele existem vidas, esperanças destroçadas, sentimentos arrebatados", afirmou o juiz. "A magistratura nos ensina, dia após dia, que o nosso conhecimento primário angariado nos compêndios rasos do direito não se demonstra suficiente para fazer frente as mais variadas aflições que administramos".
Em seguida, explicou que somente ao deparar, nas salas de audiência, com um trabalhador mutilado por um acidente de trabalho ou com vítimas do trabalho análogo a de escravo é que se percebe que "o ato de julgar deve ir muito além de simples exercício de técnica jurídica para se plasmar em ato de refinada sensibilidade, qualidade esta que não é ensinada nos manuais de direito".
Ao terminar seu discurso, o juiz João Humberto lembrou dos princípios de Dom Pedro Casaldáliga, bispo que conheceu pessoalmente há pouco, durante sua atuação como titular da Vara do Trabalho de São Félix do Araguaia: nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e nada matar. Princípios que, segundo avaliação do juiz, moldam-se perfeitamente ao exercício da magistratura. Após detalhar cada um deles, o representante da Amatra enfatizou: "Nada calem. A maior virtude do magistrado é a de não perder, por decurso de tempo, a capacidade de se indignar e, sobretudo, não matem, jamais, pela indiferença, as esperanças dos explorados".
As renúncias e as dificuldades foram salientadas também pelo juiz José Roberto Gomes Júnior, ao falar em nome dos recém-empossados. Ao abordar o importante papel social que os magistrados têm a cumprir, o novo juiz falou da missão de aproximar-se da sociedade, captando seus anseios e aliando a técnica e a ciência jurídica aos fins sociais da lei. "Juízes são servidores e não senhores do povo", concluiu.
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