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Nacional
Segunda - 05 de Fevereiro de 2007 às 08:15

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O mundo ficou chocado na última sexta-feira ao tomar conhecimento, pelo principal comitê científico internacional, reunido em Paris, do relatório que dá um alerta geral para os graves prejuízos que virão com o aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa. Pelo relatório, o aquecimento do sistema climático e inequívoco, a causa muito provavelmente é humana e o efeito continuará pelos próximos séculos.

Para a Amazônia, as conseqüências do aquecimento serão a transformação em cerrado da maior parte de sua floresta tropical, pois a região pode sofrer um aumento de temperatura superior à media global, além de uma redução significativa na ocorrência de chuvas.

Essa previsão foi feita pelo físico brasileiro Paulo Artaxo, um dos autores do relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) divulgado em Paris, que dá o mais completo panorama científico elaborado até agora sobre as alterações no clima do planeta.

Segundo publicou a Agência Estado, o físico afirmou que a temperatura na Amazônia deve aumentar 5° C até 2100, uma elevação superior à previsão de 1,8°C a 4°C para o resto do mundo. O cálculo foi feito por técnicos brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com base nas conclusões dos cientistas do IPCC.

Para o físico Paulo Artaxo, especialista do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, “o aumento de 5° C na temperatura da Amazônia entre 2090 e 2099 teria conseqüências drásticas para a sobrevivência do ecossistema amazônico, que poderia sofrer uma redução de sua área".

A redução da área da Amazônia ocorreria em razão não só do aumento da temperatura como também da redução de chuvas. "Se a estação seca aumentar, se torna mais difícil sustentar o ecossistema amazônico como floresta tropical. Isso levaria à savanização da região, transformando o sul da Amazônia em cerrado", destacou o físico brasileiro.

As projeções do cientista brasileiro apontam, também, que além da elevação na temperatura, a região central do Brasil, como também as regiões Norte e Nordeste, poderiam registrar uma redução do nível de chuvas de até 20% nos meses de junho a agosto, a chamada estação seca, por conta do aquecimento global. "Isso teria forte impacto na agricultura da região. Grandes investimentos em soja e biocombustíveis estão sendo feitos no centro do Brasil e pode ser que, em 30 ou 40 anos, esteja se iniciando, nessa área, um processo de desertificação", explicou Paulo Artaxo.

Responsável pela elaboração do capítulo que trata das mudanças climáticas regionais, no primeiro volume do relatório do IPCC, o físico brasileiro a diminuição no nível das chuvas seria crítica para o ecossistema dessas áreas.Ao lembrar que também no sul da Europa, de Portugal, da França e da Espanha, já vem ocorrendo esse problema de falta de chuvas e desertificação, Paulo Artaxo destacou que “as projeções falam sobre o que ocorrerá até 2100, mas os fenômenos ligados às mudanças climáticas já estão ocorrendo e vão se intensificar em apenas 10 ou 20 anos”. Apesar disso, Artaxo preferiu não ser alarmista dizendo que "não é o fim do mundo, mas temos de agir para diminuir o problema".

As previsões são dramáticas

O Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática traz uma visão sombria do estado atual do mundo e faz previsões dramáticas para o meio ambiente. "O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como agora é evidente, graças a observações de elevações na temperatura global média do ar e dos oceanos, vasto derretimento do gelo e das neves, e elevação do nível médio do mar em escala global", assinala o texto do relatório.

O presidente do painel, o cientista indiano Rajendra Pachauri, referiu-se ao relatório como "um documento muito impressionante, que avança vários passos em relação à pesquisa prévia". Uma importante cientista do governo dos Estados Unidos, Susan Solomon, declarou, durante o lançamento, que "não pode mais haver questão de que o aumento nos gases do efeito estufa é dominado pelas atividades humanas".

O relatório do Painel afirma que já se pode atribuir às emissões provocadas pelo homem problemas como menor número de dias frios, noites mais quentes, ondas de calor letais, enchentes e chuvas pesadas, secas devastadoras e um aumento na força de tempestades e furacões, principalmente no Oceano Atlântico.

O relatório divulgado em Paris é o quarto emitido pelo Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC), e o segundo neste século. Trata-se do primeiro texto oficial do painel, criado pela ONU, a afirmar que é "muito provável" - o que indica um nível de certeza superior a 90% - que a elevação da temperatura da Terra é provocada pela atividade humana.

Centenas de estudos realizados sobre as conseqüências do aquecimento global para as espécies assinalam que algumas espécies de animais e plantas estão desaparecendo ou mudando antes que o previsto, por conta do aquecimento global, afirma uma revisão de centenas de estudos realizados sobre o assunto. As alterações, extremamente rápidas, surpreendem até mesmo biólogos e ecologistas, por conta da velocidade com que ocorrem.

Pelo menos 70 espécies de rãs, a maioria moradoras de montanhas e que não tinham para onde fugir do calor crescente, extinguiram-se por causa do aquecimento global, diz a análise. O trabalho também informa que entre 100 e 200 outras espécies que dependem de temperaturas baixas para sobreviver, como pingüins e ursos polares, estão em grave perigo.

"Finalmente, estamos vendo espécies se extinguir", diz a bióloga Camille Parmesan, autora da avaliação. "Agora temos a evidência. Está aqui. É real. Não é só uma intuição dos biólogos. É o que está acontecendo". A avaliação, envolvendo 866 estudos científicos, é apresentada no periódico Annual Review of Ecology,

Pressões aumentam sobre nações industrializadas

A divulgação do relatório levou ambientalistas e governos a pressionarem as nações industrializadas, principalmente os Estados Unidos, a cortarem de forma significativa suas emissões de gases do efeito estufa. O presidente da França, Jacques Chirac, destacou que o mundo está "no limiar histórico do irreversível", e pediu por uma "revolução" política e econômica para salvar o planeta.

Por sua vez, o ministro de Assuntos Ambientais da África do Sul, Marthinus van Schalkwyk, declarou que não agir agora é "indefensável". "Estamos, agora, além do ponto crítico do debate: os que continuarem a ignorar a ameaça e suas causas, ou a invocar argumentos falaciosos para confundir e obstruir, estarão prestando o maior desserviço às gerações atuais e futuras", declarou o ministro.

O ministro de Meio Ambiente da Indonésia, Rachmat Witoelar, que já previu que cerca de 2.000 das 18.000 ilhas que compõem seu país acabarão submersas pela elevação do nível do oceano, afirmou que os países em desenvolvimento devem "assumir o compromisso de cortar as emissões entre 40% e 60%. Nós, na Indonésia, temos vigiar contra a queima de nossas florestas e monitorar melhor nossas indústrias".





Fonte: AE

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