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Nacional
Sábado - 03 de Fevereiro de 2007 às 13:07

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Sem pressa. Foi com essa filosofia regada a tranqüilidade de uma cidade longe das metrópoles que um barbeiro de Araraquara, no interior de São Paulo, criou um projeto único e inusitado. Imagine montar uma frase intera apenas com palavras iniciadas com a letra "P". É difícil. Agora, pense em escrever um livro com 180 páginas e 38 personagens da mesma maneira. Parece impossível ou pouco provável, mas o barbeiro e escritor Dovílio Rodrigues, 71 anos, teve a façanha de construir ao longo de quatro anos essa história de forma seqüencial divididas em 20.794 palavras iniciadas com "P".

O livro, que ele considera um feito histórico e inigualável, foi batizado de Pentapaixão, publicado pela Editora Unigraf. A tiragem inicial do projeto independente foi de mil exemplares em agosto do ano passado. Agora, após algumas correções, mais duas mil cópias devem ser impressas nas próximas semanas. Pentapaixão significa as cinco paixões vividas pelo personagem principal da história, o corredor Plínio Pirilo Pereza Proença, o Plininho, primogênito prematuro nascido de parto pélvico podálico (parto pelos pés). O romance conta os amores que vão desde uma portuguesinha, passando por uma pipoqueira e terminando em uma prostituta.

Já o autor é casado e pais de seis filhos. Barbeiro e técnico pericial aposentado, Rodrigues abandonou a escola na terceira série do ensino fundamental e se tornou autodidata. Ainda menino, trabalhou como engraxate em uma barbearia. Lá, aprendeu as técnicas da tesoura. Virou perito e, ao se aposentar, abriu uma barbearia na frente da casa onde mora. E foi entre um corte e outro de cabelo que o escritor teve a idéia de escrever um conto com apenas palavras de uma mesma letra. Ele tentou o "A" e o "B", mas percebeu que só conseguiria a façanha com a letra "P".

"Qualquer um em sã consciência sabe que isso é uma loucura", brinca o barbeiro escritor. Qualquer espaço de tempo na agenda era suficiente para anotar as palavras que ouvia de clientes e criar a história de Plínio. A distração diária com a palavra cruzada também deu vocabulário para formar o romance. O texto seqüencial não usa artigos. Para reforçar a história, Rodrigues esgotou temas esportivos, médicos, entre outras áreas acadêmicas com a letra "P" e ainda literalmente gastou as páginas o dicionário procurando palavras com a letra escolhida e que tivessem o mesmo sentido. Até por isso, ele criou uma nota de rodapé com o significado de 172 palavras mais complexas.

O escritor não teve a curiosidade de contar, mas, segundo ele, a preposição "para" foi sem duvida a palavra mais utilizada no livro. A obra, inclusive, deve ser incluída no Ranking Brasil, que atesta os recordes brasileiros. Ele pretende encaminhar o projeto ao Guinness Book. Para a revisora do Pentapaixão, Grasiela Mattioli de Oliveira, buscar erros gramaticais em um livro seqüencial em que todas as palavras começam com "P" foi um desafio. Ela que conheceu o escritor ao acompanhar o avô até barbearia lembra que muitas vezes sonhava com as palavras lidas no livro.

Algumas curiosidades podem ser encontradas ao ler o livro. Entre elas, o barbeiro escritor criou uma religião batizada de Protestante Penitento para acompanhar o personagem Plínio em uma fase crítica. Nessa igreja o personagem se torna pastor e presbítero. "Tem até o Persi que é o anjo da guarda do personagem", comenta o escritor sentado em frente ao computador em que escreveu a obra no mínimo curiosa.





Fonte: Terra

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