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Lembrança ruim
Não faz muitos anos a violência teve picos muito fortes em Mato Grosso. A então Polícia Civil entrou numa de eliminar bandidos e deixar o “sinal” para intimidar a “tchurma”. Deu resultados no momento. Na verdade, estava copiando um exemplo de péssima lembrança, chamado de “esquadrão da morte”. O sistema surgiu na década de 70 no lendário DEOPS – Departamento de Ordem Política e Social, em São Paulo, sob inspiração do delegado Sergio Fleury. Consistia em torturar presos políticos até a morte. Era uma extensão dos porões dos DOI-CODI, que eram órgãos de repressão policial do Exército, mas que preferiam “terceirizar” as torturas através do delegado Fleury.
Na década de 60, no Rio de Janeiro surgiu uma teoria nova: “bandido bom é bandido morto”, no combate à onda de assaltos na então capital do país. Nascia ali o esquadrão da morte, sob a proteção do Estado, como uma profilaxia de fachada ao crime, realizada por um órgão oficial chamado de Serviço de Diligências Especiais, o famoso SDE, terror da “tchurma” carioca. Os esquadrões tinham logomarca para o grupo que passou a ser conhecido como “esquadrão da morte”: uma caveira com as duas tíbias cruzadas sobre um fundo negro e as letras EM. Nos lugares onde se deixava o bandido morto, ficava uma folha de papel desenhada com a logomarca.
Nas favelas do Rio de Janeiro calculou-se em 250 as vítimas do esquadrão. A coisa foi tão grave, que chegou a se tornar uma grife. “Scuderie Detetive Le Coq” era a denominação do grupo que contava com a elite da Polícia Civil, através dos chamados “homens de ouro”.
Isso se repetiu no Brasil inteiro, com o apoio ou com a conivência das polícias. Evidente que não resolveu e nem resolveria o problema da violência, porque ela tem raízes e causas, e os esquadrões só mataram bandidos e nunca a raiz. Ficou só a lembrança de uma solução de quem não tinha solução.
Hoje, neste pico atual de violência, ouve-se aqui e ali saudosismos pelos esquadrões da morte e rumores de que eles estariam se articulando dentro da estrutura policial do governo de Mato Grosso. É uma loucura, porque os riscos, são muito maiores do que os eventuais resultados. No Rio ,em São Paulo, no Espírito Santo, em Minas Gerais, na Bahia e em Brasília, quando os esquadrões foram condenados publicamente, não se podia mais desarticulá-los, porque eles tinham vida própria e negócios particulares a defender.
Com isso, as polícias ficaram contaminadas para sempre com os matadores que se põem acima da lei e ninguém conseguiu mais pará-los, até hoje, apesar do fim do regime autoritário.
Se alguém em Mato Grosso estiver pensando em criar esquadrões da morte ou patrocinar grupos de extermínio, saiba que está prestando o pior serviço do mundo à causa da segurança. Em pouco tempo a sociedade terá trocado bandidos informais por bandidos formais. Muito mais perigosos, porque são legalmente armados e corporativos. Será trocar um bandido por outro na mesma escola do crime.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br
Na década de 60, no Rio de Janeiro surgiu uma teoria nova: “bandido bom é bandido morto”, no combate à onda de assaltos na então capital do país. Nascia ali o esquadrão da morte, sob a proteção do Estado, como uma profilaxia de fachada ao crime, realizada por um órgão oficial chamado de Serviço de Diligências Especiais, o famoso SDE, terror da “tchurma” carioca. Os esquadrões tinham logomarca para o grupo que passou a ser conhecido como “esquadrão da morte”: uma caveira com as duas tíbias cruzadas sobre um fundo negro e as letras EM. Nos lugares onde se deixava o bandido morto, ficava uma folha de papel desenhada com a logomarca.
Nas favelas do Rio de Janeiro calculou-se em 250 as vítimas do esquadrão. A coisa foi tão grave, que chegou a se tornar uma grife. “Scuderie Detetive Le Coq” era a denominação do grupo que contava com a elite da Polícia Civil, através dos chamados “homens de ouro”.
Isso se repetiu no Brasil inteiro, com o apoio ou com a conivência das polícias. Evidente que não resolveu e nem resolveria o problema da violência, porque ela tem raízes e causas, e os esquadrões só mataram bandidos e nunca a raiz. Ficou só a lembrança de uma solução de quem não tinha solução.
Hoje, neste pico atual de violência, ouve-se aqui e ali saudosismos pelos esquadrões da morte e rumores de que eles estariam se articulando dentro da estrutura policial do governo de Mato Grosso. É uma loucura, porque os riscos, são muito maiores do que os eventuais resultados. No Rio ,em São Paulo, no Espírito Santo, em Minas Gerais, na Bahia e em Brasília, quando os esquadrões foram condenados publicamente, não se podia mais desarticulá-los, porque eles tinham vida própria e negócios particulares a defender.
Com isso, as polícias ficaram contaminadas para sempre com os matadores que se põem acima da lei e ninguém conseguiu mais pará-los, até hoje, apesar do fim do regime autoritário.
Se alguém em Mato Grosso estiver pensando em criar esquadrões da morte ou patrocinar grupos de extermínio, saiba que está prestando o pior serviço do mundo à causa da segurança. Em pouco tempo a sociedade terá trocado bandidos informais por bandidos formais. Muito mais perigosos, porque são legalmente armados e corporativos. Será trocar um bandido por outro na mesma escola do crime.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
onofreribeiro@terra.com.br
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/245783/visualizar/
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