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Cidades/Geral
Segunda - 22 de Janeiro de 2007 às 06:23
Por: Andréia Fontes

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O uso da anticoncepção de emergência, popularmente conhecida como pílula do dia seguinte, ganha cada vez mais adeptos pela praticidade. O medicamento, criado para ser utilizado, como o próprio nome diz, em casos de emergência, tem se tornado praticamente um método rotineiro de evitar gravidez. Prova disso é que em apenas 3 farmácias de Cuiabá, sendo uma 24h, outra localizada na região central de Cuiabá e a terceira na região do Coxipó, a venda é de cerca de 400 a 450 caixas do medicamento, em cada uma delas, por mês.

E estes números podem aumentar. Esta semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução que estabelece normas éticas para a utilização, pelos médicos, da anticoncepção de emergência. A resolução aponta que a utilização deste medicamento não fere os dispositivos legais vigentes no país, já que afirma que não é abortivo.

Pela resolução, o CFM passa a "aceitar a anticoncepção de emergência como método alternativo para a prevenção da gravidez, por não provocar danos nem interrupção da mesma" e no artigo 2º aponta que "cabe ao médico a responsabilidade pela prescrição da anticoncepção de emergência como medida de prevenção, visando interferir no impacto negativo da gravidez não planejada e suas conseqüências na saúde pública, particularmente na saúde reprodutiva".

Mas na prática o que se percebe é que a compra do medicamento é raramente feita com indicação médica. Os vendedores, gerentes e farmacêuticos afirmam que a maior procura acontece nos finais de semana e na segunda-feira. Em farmácias 24h, é durante a madrugada que o produto é mais vendido.

Uma das farmácias 24h de Cuiabá vende, segundo o gerente, cerca de 15 caixas da pílula do dia seguinte nas sextas-feiras, sábados, domingos e nas segundas-feiras. Nos outros dias da semana a média caia para 7 a 8 caixas por dia. Ou seja, uma venda que passa das 300 caixas ao mês. "A maioria das pessoas dizem que vão usar o remédio porque a camisinha estourou, mas com certeza não é verdade", afirmou um gerente, garantindo ainda que a farmácia onde trabalha não passa um dia sequer sem vender o medicamento.

Nas outras duas farmácias que aceitaram passar dados para a reportagem, uma na região central de Cuiabá e outra na região do Coxipó, a média é de 50 a 60 caixas por mês, cada uma.

A presidente da Ong Corações Amigos, uma entidade que reúne portadores do vírus HIV em Cuiabá, Leiry Maria Rodrigues ressalta que estes dados deixam "muito claro" que as campanhas de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis estão deixando "muito a desejar". "Isso significa que prevenção não existe", aponta.

Leiry, aparentemente surpresa com os números de venda da pílula do dia seguinte, lembra que o grande crescimento dos números de contaminação da Aids está entre os adolescentes e as pessoas da terceira idade. "E a pílula do dia seguinte, com certeza, é comprada, na sua maioria, pelos adolescentes que estão deixando de se prevenir".

Para Leiry, o problema começa nas escolas, que estão abandonadas, em sua opinião. Depois, continua com a falta de campanhas educativas pelos Estados e municípios.

O superintendente de Atenção Integral à Saúde, Victor Rodrigues, afirma que o papel do Estado é capacitar os municípios para que realizem palestras orientativas. "O Estado acaba realizando campanhas de mídia em períodos considerados mais críticos, como carnaval, festival de inverno e festivais de praia", enfatizando que a promoção da saúde é competência dos municípios.

Surpreso com a quantidade de pílulas vendidas em apenas uma farmácia, ele enfatizou ainda que o uso da pílula do dia seguinte é para casos "selecionadíssimos" e aponta que o grande problema é que destes medicamentos vendidos, a grande maioria, com certeza, é sem receita médica.

A presidente do Sindicato do Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Maria Cristina Pacheco acrescenta ainda que o grande problema é que as pessoas estão preocupadas apenas com uma gravidez e esquecendo das DST (Doença Sexualmente Transmissível), hepatite e Aids. "E quanto mais tenta esclarecer, pior fica. Não sei se as pessoas estão pensando que são super-homens e super-mulheres. O fato é que o número de prevenção contra doenças ainda é muito baixo, em todos os níveis", destaca.

Maria Cristina ressalta ainda que a anticoncepção de emergência deve ser usada em alguns casos específicos, como em estupro e ressalta: "Gente, camisinha sempre!".




Fonte: A Gazeta

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