Governo cogita vender ações de empresas estatais
Um auxiliar do presidente informou ao blog, neste sábado (20), que Lula autorizou o Ministério da Fazenda a levantar um rol de estatais cujas ações possam despertar interesse no mercado. Antecipando-se às críticas, o governo argumenta que as empresas não serão privatizadas. Pretende-se negociar apenas as ações que excedam aos 51% que asseguram ao Estado o controle acionário das companhias.
O plano do governo revela uma fragilidade da estratégia de Lula II. O presidente pretende imprimir no segundo mandato a marca do desenvolvimentismo. E acha que cabe ao Estado dar o tom do novo ciclo, patrocinando, ele próprio, uma série de investimentos. Entende-se que a iniciativa privada virá no vácuo.
O problema é que falta dinheiro ao setor público para investir. Daí a idéia de promover a venda de ativos. Estudam-se também formas de impulsionar parcerias com a iniciativa privada. De resto, tenta-se identificar fontes alternativas de recursos em organismos internacionais –o Banco Mundial, por exemplo.
O objetivo do governo é obter pelo menos R$ 20 bilhões para despejar em obras tidas como prioritárias. Esse montante vem oscilando nas reuniões dos técnicos que elaboram o PAC. Falou-se, de saída, em R$ 16 milhões. Depois, em R$ 17 milhões. Agora, os técnicos fixaram-se no patamar de R$ 20 bilhões.
O governo já dá de barato que, para conseguir alcançar a meta, terá de flexibilizar os seus compromissos com o superávit primário, a economia que o setor público realiza para financiar a rolagem da dívida pública. Sob Antonio Palocci, estabeleceu-se que o superávit não poderia cair abaixo de 4,25% do PIB.
Na gestão de Guido Mantega, que deve ser mantido por Lula no Ministério da Fazenda, admite-se que a meta de superávit deve cair para 3,75% do PIB. Trata-se de uma flexibilização do rigor fiscal que o governo vinha impondo a si mesmo. Mas o time da Fazenda entende que o novo patamar não comprometerá a percepção do mercado de que, no segundo mandato, Lula continua de mãos dadas com o compromisso de rigor econômico.
Se levado às últimas conseqüências, o plano do governo de se desfazer de ações de companhias estatais tende a transformar-se numa curiosa contradição pós-eleitoral. Acossado pelo dossiêgate, Lula enxergou no discurso anti-privatista uma arma poderosa para levar às cordas o adversário tucano Geraldo Alckmin.
Na pele de candidato, Lula disse que, no poder, o tucanato não sabia senão dilapidar o patrimônio público. O achado nasceu da intuição do marqueteiro João Santana, que fez a campanha de Lula. Receoso de vincular a sua imagem à de FHC, que levara ao martelo algumas das mais vistosas estatais brasileiras, Alckmin ficou sem resposta. Passada a eleição, Lula vê-se compelido a fazer caixa vendendo ações de empresas públicas. Está na bica de fazer o que criticou.
Por mais que se diga que, sob Lula, o comércio de ações não privará o Estado do controle das estatais, a oposição, PSDB à frente, não há de deixar passar a oportunidade de apontar a nova estratégia como uma modalidade disfarçada de estelionato eleitoral.
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