Tráfico é mão estendida, diz psicóloga

Criança precisa de cuidado. Cuidado requer a presença de adulto que a respeite, imponha limites, dê comida na hora certa, ajude a fazer tarefa, tomar banho, entre outras atividades do cotidiano. Para a psicóloga Luciana Bonilha, a maioria dos precoces usuários de droga, não só do Pedregal, mas da cidade como um todo, estão na rua em busca de algo que a família não oferece, seja tempo disponível ou de amor. O "cuidar", no sentido amplo da palavra (corpo e espírito) permeia as relações de pais e filhos.

Ela explica que o tráfico entra como um mão estendida para alguém que não encontra na família o respaldo necessário. Mas nem sempre é possível taxar que o pai ou a mãe sejam "ruins", muitas vezes falta apenas tempo para estar casa. "Eles precisam ganhar dinheiro, não tem com quem deixar a criança, que acaba na rua, essa situação é muito comum na periferia. Nada que um bom sistema educacional não resolvesse, a solução só depende de vontade política".

O futuro dessas crianças é a criminalidade. Muitas vezes a morte. Ainda assim, Luciana vê uma luz no fim do túnel. Praticamente todas elas são recuperáveis, caso consigam resgatar a auto-estima e encontrem na família o apoio necessário. "Atendi o caso de um menino de 12 anos, preso por homicídio. Depois de 9 meses de intenso trabalho com ele, obtive sucesso. Ele saiu de lá, hoje trabalha, estuda e nunca mais reincidiu".

Não existe segredo para o que essa profissional fez. "Mostrei a ela que me preocupava, que queria cuidar. Na vida, podemos fazer nossas escolhas e ele precisava saber que existiam opções melhores". Mas a participação dos pais e irmão na recuperação desse garoto foi fundamental. "Eles estavam lá toda semana, queriam ajudar". (RD)