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Nacional
Quinta - 11 de Janeiro de 2007 às 08:01

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O risco de um morador do Rio ser morto em confronto com a polícia é um dos mais elevados do País. Até setembro, conforme levantamento feito pelo Estado com base em estatísticas oficiais, a média foi de uma morte em 16,6 prisões. Em São Paulo, alvo de três ondas de ataques do crime organizado em 2006, a proporção foi de uma morte em 151,2 prisões no mesmo período - em agosto, por exemplo, os policiais fluminenses mataram mais do que a polícia paulista no primeiro trimestre do ano. Para especialistas em segurança pública, a disparidade resulta da cultura 'militarizada' das forças fluminenses.

Desde 2000, o Rio vive uma escalada da violência policial. Mas a explosão dos autos de resistência - figura jurídica tida por entidades de defesa dos direitos humanos como um eufemismo para uso excessivo da força e até execuções - se deu em 2002, quando houve um salto de 52% (de 592 para 900) no número de mortes cometidas por policiais em serviço. No ano seguinte, mais uma marca negativa: 1.195 pessoas morreram em confrontos com a polícia - número superior à média mensal de civis mortos durante intervenção das tropas americanas no Iraque.

'De forma geral, a polícia no Brasil é muito violenta. Mas, em relação aos outros Estados, a fluminense está em um patamar bem acima', afirma o sociólogo Ignácio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio (Uerj). No ano passado, diz ele, a Secretaria Nacional de Direitos Humanos apresentou ao Ministério Público do Rio uma proposta para a criação de metas de redução da letalidade. O pedido acabou indeferido pelos promotores, sob a alegação de que essa medida deveria ser tomada administrativamente.

'Se não houver uma política para limitar o uso da força policial, elas (as polícias) continuarão produzindo esse resultado desastroso', alerta Cano. O sociólogo diz que, ao invadir uma favela, a polícia do Rio age como se estivesse indo para uma guerra, em que as baixas do lado inimigo são consideradas positivas. Para fazer frente ao poder de fogo dos bandidos, utiliza armas de grosso calibre. 'Não é à toa que há tantos casos de balas perdidas', diz Cano.

O envolvimento de policiais fluminenses com as milícias - grupos paramilitares que agem nas favelas em oposição às quadrilhas de traficantes - e em casos de corrupção agrava a situação. 'Não quero minimizar os problemas de São Paulo, mas aqui a tolerância das autoridades com esses casos é menor. A polícia do Rio prende pouco e mata demais', diz Paulo Mesquita, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).

Especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em dizer que não há um índice aceitável de letalidade policial. Nos Estados Unidos e na Europa, diz o pesquisador da USP, as mortes de suspeitos são fatos isolados - o assassinato do eletricista Jean Charles de Menezes, confundido com um terrorista e executado pela Scotland Yard no metrô de Londres, em 2005, é exemplo disso.

O relações-públicas da Polícia Militar do Rio, tenente-coronel Rogério Seabra, disse que a corporação 'não valoriza' as ações que terminam com suspeitos mortos e ressalta que há, no Estado, a 'cultura do fuzil'. 'O bandido com uma arma dessa não pensa duas vezes antes de atirar no policial. Lamentavelmente, ocorrem os enfrentamentos', diz Seabra. A corporação não conta com programas de redução da letalidade. Em 2006, 26 policiais militares foram mortos em serviço, ante 785 suspeitos.





Fonte: AE

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