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Internacional
Sexta - 05 de Janeiro de 2007 às 07:38

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“Nossa filha Ashley teve um nascimento normal, mas suas faculdades mentais e motoras nunca se desenvolveram.” Com essas palavras, os pais da menina americana de 9 anos iniciam um longo e detalhado relato na internet em que justificam a polêmica decisão de impedir que a filha cresça e de retirar suas mamas e seu útero. O caso tem provocado acaloradas discussões nos Estados Unidos.

Ashley nasceu com uma paralisia cerebral de origem desconhecida. Ela não consegue se mexer sozinha nem falar. Os pais não sabem nem ao menos se a menina consegue reconhecê-los. O casal, que não quis se identificar, vive em Seattle e tem outros dois filhos, mais novos que Ashley e saudáveis.

O casal começou a se preocupar quando, aos 6 anos, a menina teve os primeiros sinais de uma puberdade precoce. Os dois então se deram conta de que logo a filha ficaria grande e pesada demais para ser levantada, para ser levada a passeios, para ser cuidada - teria, portanto, de passar o dia todo dentro de casa. Consultaram médicos do Hospital de Crianças de Seattle. Uma comissão de 40 profissionais da instituição estudou o caso e deu luz verde para o polêmico tratamento. Para evitar processos, advogados também foram ouvidos.

Ainda aos 6 anos, Ashley teve as mamas, o útero e o apêndice extirpados. Segundo os pais, as mamas da filha já haviam começado a crescer e logo poderiam provocar incômodos, já que a menina não consegue se movimentar sozinha. No caso do útero, a idéia era fazer com que Ashley deixasse de passar pelos inconvenientes da menstruação. Em relação ao apêndice, quiseram evitar que a menina sofresse - sem poder avisar - de uma possível apendicite. O casal de Seattle explicou que a retirada do útero e das mamas também foi motivada pelo medo de a menina sofrer um abuso sexual e engravidar.

Logo após as cirurgias, Ashley começou um tratamento com hormônios que impedem o crescimento. As cirurgias e o tratamento, segundo um artigo publicado pelos médicos de Seattle na edição de outubro da revista especializada Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine, ocorreram com sucesso. Aos 9 anos, Ashley tem cerca de 1,30 metro e 34 quilos. Assim deverá ficar.

Peter Pan

Como o caso ficou público e provocou fortes reações, os pais da menina criaram uma página na internet para explicar suas razões. “A decisão, ao contrário do que se imagina, não foi difícil. Não fizemos isso pensando no nosso bem-estar. Fizemos isso pensando na qualidade de vida de nossa filha”, escreveram. “Ela não é um fardo, é uma bênção.”

O blog se encheu de mensagens, a maioria com críticas à decisão. Chegou-se a falar em eugenia, a esterilização compulsória dos considerados geneticamente inferiores, praticada pelos nazistas durante a 2ª Guerra.

No Brasil, a primeira reação do neurologista Fernando Kok, assessor do Fleury Medicina Diagnóstica e professor da USP, foi classificar o procedimento de “violência”. Diante dos argumentos dos pais e dos médicos, afirmou que a decisão “tem a sua lógica, mas não deixa de ser polêmica”.

Kok lembra que há alternativas a esse “procedimento extremo”. Segundo ele, a menstruação pode ser evitada apenas com medicamentos. Além disso, pessoas com paralisia cerebral ficam menores e menos pesadas que adultos saudáveis. “A preocupação com a criança que vai crescer existe, mas nunca ouvi um pai dizer que queria uma ‘síndrome de Peter Pan’. Os pais sempre conseguem se adaptar às mudanças.”





Fonte: AE

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