MT teve a mais baixa incidência de ferrugem na safra passada
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) registrou de outubro até 28 de dezembro 110 focos da doença no Brasil, 41,7% menos que os 189 verificados no mesmo período do ano passado. Mas, ainda não é possível comemorar, segundo a pesquisadora da Embrapa Soja, Claudine Dinali Seixas. Isso porque é nos meses de janeiro e fevereiro que há a maior incidência de novos casos da doença. Dos 1.419 focos registrados na safra 2005/06, 944 foram nesses dois meses.
De acordo com a pesquisadora, apesar de não haver comprovação científica da relação chuva com a ocorrência da ferrugem asiática, há indicativos de que o ambiente úmido é propício para a proliferação da doença, que é causada por um fungo. Claudine acrescenta que, apesar de alguns estados como Mato Grosso já estarem colhendo, outros ainda estão terminando o cultivo da oleaginosa, como o Rio Grande do Sul. Até 28 de dezembro deste ano, apenas dois focos de ferrugem haviam sido notificados nas lavouras gaúchas. No entanto, o estado foi, na safra passada, o campeão, com 359 incidências.
O segundo colocado em 2005/06, Mato Grosso do Sul, teve até agora 26 focos, contra os 245 verificados em toda a safra passada.
O meteorologista da consultoria climática Somar, Paulo Etchitchury, afirma que as chuvas previstas para janeiro no Rio Grande do Sul e no Paraná estão dentro da normalidade e vão mais contribuir para o desenvolvimento da lavoura do que prejudicar. "O produtor não pode reclamar da chuva por causa da ferrugem, afinal de contas, elas são necessárias para o cultivo", diz. Ele alerta ainda que há expectativa de estiagem de oito a dez dias em algumas regiões gaúchas ainda este mês.
O estado do Paraná registrou na safra 2005/06, 245 focos, a terceira maior do país. E, nesta safra a doença também avança mais do que em outras regiões. Em 28 de dezembro, tinham sido verificados pela Embrapa Soja 34 casos no estado. Nos últimos seis dias foram detectados mais 11 focos.
"E a tendência é que o fungo se alastre", diz o sojicultor Herbert Bartz, de Rondolândia, município localizado no Norte paranaense. Ele acredita que terá que fazer pulverizações em sua área de 160 hectares ainda na próxima semana. Segundo ele, a justificativa está no aumento do nível de umidade em sua região, causado pelas chamadas "chuvas do Norte", com ventos úmidos vindos da Amazônia. "Toda vez que chegamos nesse nível, temos que fazer pelo menos uma pulverização para não termos incidências". Na safra passada, ele realizou duas pulverizações e, ainda assim, teve queda de 10% da produtividade da lavoura, que resultou na colheita de 8 mil sacas da oleaginosa.
Vazio sanitário
Apesar de ser o maior produtor nacional de soja, com 27,3% da safra nacional, Mato Grosso teve a mais baixa incidência de focos na safra passada entre estados sojicultores (18 focos). Essa melhora dos índices, segundo Claudine, se deve à adoção do "vazio sanitário", ou seja, período na entressafra (de 60 a 90 dias) em que é proibida a permanência de soja na lavoura. Essa proibição é feita por instrução normativa estadual e, até agora, somente Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Mato Grosso do Sul aderiram.
O Paraná ainda não instituiu a norma. Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja estava em estudo no Consórcio Anti-ferrugem paranaense - que reúne iniciativa pública e privada no combate a doença - a obrigatoriedade do vazio ainda para esta entressafra. Segundo informações do Departamento de Fiscalização da Secretaria de Agricultura do Paraná até agora não há previsão de a normativa entrar em vigor.
Desde a safra 2001/02, quando surgiram os primeiros focos da ferrugem nas lavouras brasileiras, até a passada, as perdas acumuladas chegam a 11,4 milhões de toneladas do grão, o que significou prejuízos de US$ 2,72 bilhões, de acordo com estimativas da Embrapa Soja. Acrescentando-se a isso o custo para o combate à praga, os sojicultores perderam US$ 5,38 bilhões.
Comentários