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Quarta - 03 de Janeiro de 2007 às 11:20

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Já é possível detectar se o embrião tem alguma alteração cromossômica e até se é menino ou menina antes mesmo de ele ir parar na barriga da mamãe. Parece mágica, mas é ciência mesmo. Uma célula - ou melhor, um pedacinho mínimo de um embrião microscópico - é tudo que os especialistas em reprodução assistida precisam para conseguir saber se a futura mãe vai carregar no ventre um menino ou menina saudável.

Também conhecida por diagnóstico genético pré-implantacional, a biópsia de embrião não foi criada para que você verifique o sexo da criança, já que a legislação brasileira não permite essa decisão. Ela tem um papel muito mais importante: ajudar a detectar mais de 50 doenças e disfunções que podem acometer o feto.

De problemas genéticos, como a hemofilia, até alterações cromossômicas, como as síndromes de Down, Edwards e Patau ou Klinefelter, a biópsia é uma ferramenta imprescindível para quem luta contra o tempo e a fisiologia para ter um filho, já que muitas doenças têm relação com a idade da mãe. O mais impressionante é que tudo isso é feito quando o embrião tem menos de dez células. "A biópsia de embrião exige precisão e rapidez para que não se perca a janela de oportunidade", explica o ginecologista Eduardo Vieira da Motta, pai de Fernando e Beatriz.

A tal janela é o momento que os médicos consideram ideal para que o embrião seja implantado no útero: se for muito cedo ou tarde demais, a gravidez não evolui. O problema é que, menos de 24 horas depois da fertilização, um embrião já tem de quatro a seis células. Como a velocidade de multiplicação celular é muito grande, o trabalho em laboratório tem de ser incrivelmente preciso.

Avanços polêmicos Quando as subdivisões celulares já resultaram em oito células, o embriologista pega uma delas para analisar. Segundo os especialistas, o bebê nem sente falta dela. A embriologista Soraya Abdelmassih, mãe de Maria Carolina, Marcelo Augusto, Lucas Eduardo e Maria Fernanda, conta que esse pedacinho do embrião é submetido a duas técnicas: a FISH (Fluorescent In Situ Hybridization), que analisa cromossomos, e a PCR (Polymerase Chain Reaction), que observa os genes. As duas ajudarão a apontar uma série de anomalias.

Desenvolvida pela primeira vez na Inglaterra, em 1985, a biópsia de embrião suscita duas grandes discussões. A primeira, diz respeito ao conceito de vida. A partir de quando um amontoado de células passa a ser considerado um ser vivo? "Ainda não há uma resposta para essa questão", admite Motta. "O avanço da ciência esbarra em aspectos religiosos, culturais e filosóficos".

Segundo o ginecologista, o Brasil ainda não tem uma legislação específica a esse respeito e a discussão está longe de ser encerrada. A segunda polêmica que a biópsia de embrião levanta diz respeito à maneira como a sociedade vai encarar a síndrome de Down - para citar uma alteração cromossômica conhecida. Se uma família souber que o embrião tem Down, vai querer implantá-lo? A julgar pela experiência dos médicos com casos brasileiros de casais que buscam a reprodução assistida, a resposta é não.

Para entender a dimensão desse debate, é preciso lembrar que, quando um casal opta pela reprodução assistida, um ou mais conjuntos de óvulos fertilizados são observados até que um deles tenha qualidade e esteja pronto para ser implantado no útero. "Na nossa clínica, nunca houve um pedido (de implantação de um embrião com síndrome de Down). A paciente que tem um embrião portador da síndrome pode ter outros saudáveis", observa a embriologista Soraya. O ginecologista Eduardo Vieira da Motta lembra que nas sociedades em que a influência da religião sobre a legislação é menor, como é o caso de França, Holanda e Inglaterra, o aborto até o sétimo mês de vida é permitido.

"Na Europa, é comum interromper a gestação se o feto apresentar problemas. Nos Estados Unidos, onde a pressão religiosa é mais forte, e a sociedade, mais conservadora, há uma grande evolução da cirurgia em feto." A verdade é que há muitas maneiras de defender um ou outro lado.

"Por que as gestantes fazem ultra-som morfológico se, no caso de algum comprometimento do feto, elas não poderão tomar uma atitude?", pergunta. O Código Civil brasileiro só prevê a interrupção da gravidez em casos muito específicos, como quando a mãe foi estuprada ou corre risco de vida. "Essa discussão está à frente da nossa legislação", diz.

Claro que os exames durante a gestação servem para se preparar melhor para receber uma criança que vai precisar de cuidados especiais.





Fonte: Terra

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