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Percepções sobre 2006 e sobre 2007 (final)
Encerro esta série de quatro artigos com os quais pretensiosamente ensaiei a possibilidade de fazer um vôo sobre a política estadual, nacional e a economia, numa visão de conjunto global. Claro que tudo isto não caberia em 164 linhas. Mas a idéia é que sirva para estimular algumas reflexões, como:
1 – O Brasil não está crescendo, num ambiente de crescimento mundial. Isto se deve à teimosia do governo federal em não governar para o país e permitir os sonhos delirantes de tecnocratas herdeiros da truculência dos contemporâneos nascidos durante o regime militar. O presidente da República é um teórico do tipo sensitivo que opina sobre tudo, mas não sabe como pilotar o navio. Mas as pressões de crescimento do mundo estão criando ambientes para crescimento obrigatório do Brasil. O país é estratégico para a economia mundial, ainda mais agora com as políticas de biocombustíveis nos Estados Unidos, e no próprio Brasil. Lá fora, a exigência de uso do álcool para reduzir as emissões de poluentes dos automóveis, cria espaços de mercado, só para citar um nicho de oportunidades. É preciso ver que o petróleo tornou-se uma commodity política e está a um passo de uma crise mundial. O Brasil tem alternativas, mas não tem políticas duradouras e confiáveis;
2 – os ambientes sociais internos são conflituosos. A violência decorre de injustiças sociais, mas está atrelada à corrupção que desvia os recursos públicos de suas finalidades, ao corporativismo do serviço público, à inação dos servidores públicos, à falta de políticas sociais preventivas de educação para construir cidadanias, conhecimentos, desenvolver tecnologias e resgatar gerações de grandes camadas sociais deserdadas há muito tempo;
3 – o governo brasileiro não compreende o Brasil por muitas razões. Uma, o gigantismo da máquina do Estado, que acabou tornando-se gestora de si mesma. Outra, a falta de representatividade política dos partidos e dos congressistas que deveriam fazer a ligação entre os deveres e responsabilidades do Estado e os interesses da sociedade. Não fazem. Os congressistas entraram na ciranda de negócios privados dentro da esfera pública, com raríssimas e quase desconhecidas exceções;
4 - a frágil cidadania se deixou desmontar e levará um tempo precioso até tornar-se capaz de exercer juízo crítico sobre tudo isso. Depende da educação, da boa gestão pública e de um projeto de nação, que não existem estruturados;
5 – contudo, o mundo também não está melhor em termos de ordem social. Há leis que funcionam, mas não eliminam as injustiças sociais. A crueldade é uma marca de nosso tempo. A generosidade da construção de sociedades humanamente desenvolvidas é outra marca de nosso tempo. No Brasil, melhoraram a qualidade de vida, as condições humanas, a longevidade, mas o Estado é muito opressivo. O país estaria muitíssimo melhor se o Estado fosse minimamente mais eficiente e mais justo. Mesmo assim, os brasileiros têm mais futuro do que passado, e mais a crer do que a descrer. 2007 será um ano de ajustamento, de construção de uma governabilidade mínima no segundo mandato Lula, uma espécie de preparação para 2008. Os cenários animam mais do que desanimam;
6 – por último, a sociedade é quem dará o novo tom do Brasil, ou o tom do novo Brasil. Uma condição que lembra o best-seller de 1984, de Milan Kundera, “A insustentável leveza do ser”: uma leve possibilidade de ajustamento político dos cidadãos, o único caminho possível para construir o Brasil esperado e possível.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
1 – O Brasil não está crescendo, num ambiente de crescimento mundial. Isto se deve à teimosia do governo federal em não governar para o país e permitir os sonhos delirantes de tecnocratas herdeiros da truculência dos contemporâneos nascidos durante o regime militar. O presidente da República é um teórico do tipo sensitivo que opina sobre tudo, mas não sabe como pilotar o navio. Mas as pressões de crescimento do mundo estão criando ambientes para crescimento obrigatório do Brasil. O país é estratégico para a economia mundial, ainda mais agora com as políticas de biocombustíveis nos Estados Unidos, e no próprio Brasil. Lá fora, a exigência de uso do álcool para reduzir as emissões de poluentes dos automóveis, cria espaços de mercado, só para citar um nicho de oportunidades. É preciso ver que o petróleo tornou-se uma commodity política e está a um passo de uma crise mundial. O Brasil tem alternativas, mas não tem políticas duradouras e confiáveis;
2 – os ambientes sociais internos são conflituosos. A violência decorre de injustiças sociais, mas está atrelada à corrupção que desvia os recursos públicos de suas finalidades, ao corporativismo do serviço público, à inação dos servidores públicos, à falta de políticas sociais preventivas de educação para construir cidadanias, conhecimentos, desenvolver tecnologias e resgatar gerações de grandes camadas sociais deserdadas há muito tempo;
3 – o governo brasileiro não compreende o Brasil por muitas razões. Uma, o gigantismo da máquina do Estado, que acabou tornando-se gestora de si mesma. Outra, a falta de representatividade política dos partidos e dos congressistas que deveriam fazer a ligação entre os deveres e responsabilidades do Estado e os interesses da sociedade. Não fazem. Os congressistas entraram na ciranda de negócios privados dentro da esfera pública, com raríssimas e quase desconhecidas exceções;
4 - a frágil cidadania se deixou desmontar e levará um tempo precioso até tornar-se capaz de exercer juízo crítico sobre tudo isso. Depende da educação, da boa gestão pública e de um projeto de nação, que não existem estruturados;
5 – contudo, o mundo também não está melhor em termos de ordem social. Há leis que funcionam, mas não eliminam as injustiças sociais. A crueldade é uma marca de nosso tempo. A generosidade da construção de sociedades humanamente desenvolvidas é outra marca de nosso tempo. No Brasil, melhoraram a qualidade de vida, as condições humanas, a longevidade, mas o Estado é muito opressivo. O país estaria muitíssimo melhor se o Estado fosse minimamente mais eficiente e mais justo. Mesmo assim, os brasileiros têm mais futuro do que passado, e mais a crer do que a descrer. 2007 será um ano de ajustamento, de construção de uma governabilidade mínima no segundo mandato Lula, uma espécie de preparação para 2008. Os cenários animam mais do que desanimam;
6 – por último, a sociedade é quem dará o novo tom do Brasil, ou o tom do novo Brasil. Uma condição que lembra o best-seller de 1984, de Milan Kundera, “A insustentável leveza do ser”: uma leve possibilidade de ajustamento político dos cidadãos, o único caminho possível para construir o Brasil esperado e possível.
Onofre Ribeiro é articulista deste jornal e da revista RDM
URL Fonte: https://reporternews.com.br/noticia/251052/visualizar/
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