Morte de Saddam revolta árabes; inimigos se dizem injustiçados
O drama do final violento de Saddam chegou às salas de estar em todo o mundo árabe com as imagens de TV dos carrascos mascarados apertando a corda em seu pescoço. Outras imagens do corpo de Saddam numa mortalha branca também entristeceram muitos telespectadores. "Este é o pior Eid já visto pelos muçulmanos. Fiquei arrepiada quando vi as cenas", disse a jordaniana Rana Abdullah, 30, que trabalha no setor privado.
A Líbia, único país que se solidarizou com Saddam em sua morte, declarou três dias de luto e cancelou as comemorações públicas do Eid. As bandeiras nos edifícios do governo foram hasteadas a meio-pau. "Não tenho nenhuma piedade ou compaixão pelo homem, mas o momento é muito estúpido e os muçulmanos pensarão que isso foi feito para provocá-los", disse Ehab Abdel-Hamid, 30, romancista e editor sênior do jornal independente do Cairo al-Dostour.
Abdel-Bari Atwan, editor do jornal sediado em Londres Al-Quds al-Arabi, disse à televisão Al Jazeera: "a opinião pública árabe se pergunta quem deve ser julgado e executado: Saddam Hussein, que preservou a unidade do Iraque, sua identidade árabe e muçulmana e a coexistência de diferentes comunidades como os xiitas e os sunitas ... ou aqueles que mergulharam o país nessa sangrenta guerra civil?."
Ninguém foi preso nas ruas das capitais árabes, onde os muçulmanos ficaram preocupados com o feriado de Eid al-Adha, mas milhares de indianos, a maioria muçulmana, realizaram protestos contra os EUA.
Tajeddine El Husseini, um marroquino professor de direito econômico internacional, disse que o "sacrifício simbólico" de Saddam num dia religioso em que os muçulmanos sacrificam animais deve piorar a situação. "Há o risco de que elementos Baathistas possam atacar os interesses norte-americanos mesmo fora do Iraque", disse.
No Afeganistão, primeiro alvo da "guerra ao terror" declarada pelos EUA, um comandante do movimento islâmico Talebã disse que a morte de Saddam vai fortalecer a oposição muçulmana aos Estados Unidos. "Sua morte vai incentivar a moral dos muçulmanos. A jihad no Iraque se intensificará e os ataques às forças invasoras aumentarão", disse o mulá Obaidullah Akhund à Reuters, por telefone.
A notícia da morte de Saddam chocou os palestinos, muitos dos quais o viam como um herói árabe por seus ataques com mísseis a Israel durante a Guerra do Golfo, em 1991, que acabou com a ocupação iraquiana ao Kuait. "Os norte-americanos quiseram dizer a todos os líderes árabes que eles são como Saddam, nada além de um carneiro sacrificado no Eid", disse Abud Mohammad Salama numa mesquisa em Gaza.
No Kuait, invadido por Saddam em 1990, Ahmed al-Shatti, funcionário do ministério da Saúde, disse que o julgamento do líder iraquiano não foi terminado. "Ele não respondeu pelo crime de ocupação do Kuait e pelas atrocidades que cometeu aqui", afirmou Shatti.
Em Meca, os peregrinos árabes sunitas expressaram ultraje de que as autoridades iraquianas tenham executado Saddam num importante feriado religioso. Os jordanianos, que já foram pró-Saddam, afirmaram que sua execução pelas mortes de 148 xiitas iraquianos em 1982, foi incongruente.
"Certemente ele não era o único tirano no mundo. A ironia é que ele foi julgado e enforcado por um crime pequeno, enquanto fez coisas piores", disse a publicitária Aline Saeed.
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