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Quarta - 27 de Dezembro de 2006 às 10:10

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A menor molécula genética que existe nos humanos tem papel fundamental na determinação das diferenças biológicas encontradas entre homens e outros animais. Principalmente, se o assunto for inteligência.

Cientistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, descobriram uma infinidade de novos segmentos pequenos de RNA (molécula prima do DNA) que podem estar relacionados com o aumento da capacidade cognitiva humana. A investigação foi realizada em cérebros de pessoas e de chimpanzés.

Liderado pelo geneticista Ronald Plasterk, o grupo achou no cérebro de primatas 447 novos tipos de micro-RNAs, moléculas extremamente pequenas, mas de função crucial no organismo. Essas estruturas nanicas correspondem a um trecho de DNA com apenas 20 bases (letras "químicas"), mas são capazes de desligar genes de qualquer tamanho, com até dezenas de milhares de bases.

O estudo dos holandeses, publicado em outubro na revista "Nature Genetics", reforça a idéia de que o genoma esconde muitos tesouros além dos genes. O DNA que não codifica as proteínas também tem bastante importância em todo o processo celular.

"Os micro-RNAs permitem uma sintonia fina da expressão de genes específica para cada tecido, cada lugar no organismo e cada momento", disse Plasterk à Folha. "O fato de que há tantos micro-RNAs no cérebro significa que eles estão regulando genes lá."

Essas moléculas têm o potencial de aumentar a diversidade de características entre os neurônios do cérebro, algo que cientistas enxergam como pré-requisito para habilidades cognitivas humanas sofisticadas.

Complexa e bela

O biólogo brasileiro Alysson Muotri, do Instituto Salk (EUA), defende essa idéia. Segundo ele, o estudo dos micro-RNAs trará muita informação nova, mas ainda não há uma maneira prática de descobrir quais são os genes que eles afetam. "Isso está sendo feito hoje em dia por tentativa e erro", diz. "A beleza dos micro-RNAs está na complexidade: em geral eles não regulam só um gene cada um. Podem ser centenas."

Os 447 micro-RNAs descobertos por Plasterk dobram o número de variedades conhecidas dessa molécula, encontrada em humanos pela primeira vez em 2001. Cerca de 8% delas existem só nos humanos e em nenhuma outra espécie. Pode parecer pouco, mas a diferença dos genes codificadores de proteínas entre humanos e chimpanzés, por exemplo, é de 1,5%.

Plasterk diz que seria um exagero dizer que toda a receita para "transformar" um chimpanzé num humano está nos micro-RNAs, mas não há mais dúvida de que eles exercem papel fundamental. "As diferenças entre os cérebros de chimpanzés e de humanos são de gradação: não acho que os chimpanzés tenham qualquer estrutura ou tecido que não exista no nosso cérebro", diz.

"Como nós gostamos de ler livros e tocar piano, acabamos acreditando que existe uma diferença enorme entre um cérebro que pode ler um livro e outro que não pode."





Fonte: 24HorasNews

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