Logística ruim trava venda de soja em MT
Até a última sexta-feira, os produtores de Mato Grosso venderam, segundo estimativa do Imea, 75,9% da safra 2012/13 da oleaginosa, 4,3 pontos percentuais a menos que no mesmo período do ano passado, quando estava em jogo a comercialização da safra 2011/12. Trata-se de um percentual ainda bastante elevado em relação à média histórica, mas a maior parte dessas vendas foi fechada antes mesmo do início do plantio, em meados de setembro.
"As 18,3 milhões de toneladas já vendidas estão sofrendo com atrasos no transporte de caminhão até o porto, por falta de caminhões e más condições das estradas, grandes filas para descarregamento no terminal de Alto Araguaia [MT] e dias de espera para esvaziar os caminhões nos portos, principalmente Santos [SP] e Paranaguá [PR]", informa boletim divulgado pelo Imea.
Os entraves para o escoamento tiveram reflexo nos volumes de soja que Mato Grosso embarcou em fevereiro: 474,8 mil toneladas, uma queda de 30% ante o mesmo mês do ano passado.
Ainda que os problemas logísticos no Brasil tenham evitado quedas maiores das cotações da soja na bolsa de Chicago nos últimos dias, apesar da expressiva colheita de mais de 80 milhões de toneladas esperada para o país, no mercado doméstico os preços do grão arrefeceram.
Com o escoamento e o aumento da oferta, apesar dos problemas logísticos, o preço médio ponderado da saca em Mato Grosso caiu de R$ 49,30 para R$ 48,87 no último mês - o que também pode ter incentivado uma retenção das vendas dos volumes que ainda não foram comercializados, à espera de preços mais remuneradores.
Além das cotações mais baixas, a estimativa é que os agricultores do Estado tenham perdido R$ 903,4 milhões devido a problemas com a qualidade dos grãos, explicados pelo aumento da produção de soja precoce e do excesso de chuvas. Esse montante seria suficiente para plantar 10% de toda a área semeada de soja em Mato Grosso neste ciclo 2012/13.
A comercialização da segunda safra de milho de Mato Grosso também segue travada. Apenas 20,1% da produção esperada foi negociada, ou 2,67 milhões de toneladas. Há um ano, quase metade da chamada safrinha havia sido comercializada até o fim de março. Ainda assim, os embarques de milho do Estado seguem turbinados, colaborando para o atraso da soja: em janeiro e fevereiro, o total chegou a 3,73 milhões de toneladas, quase seis vezes mais que no mesmo intervalo de 2012.
Para Sérgio Mendes, diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), é comum que haja uma reprogramação das exportações diante de dificuldades de escoamento. "Navios que chegaram no começo de março no país tinham previsão de conseguir embarcar só em abril, o que resulta em gastos elevados, levando-se em conta que um navio parado custa US$ 30 mil por dia".
Além disso, fortes chuvas provocaram uma queda de barreira no fim de fevereiro sobre uma linha ferroviária da ALL Logística, na Serra do Mar, em São Paulo, e motivaram a interdição por três dias da via. Segundo a ALL, a ocorrência não deve ter impacto significativo no volume movimentado no mês, mas, de acordo com a Anec, colaborou para ampliar ainda mais a procura por caminhões nesse período.
Com a grande segunda safra brasileira de milho em 2011/12, das 1,5 milhão de toneladas a mais do cereal que chegaram ao porto de Santos (SP) no primeiro bimestre deste ano, estima-se que 600 mil toneladas tenham sido levadas por caminhões. "Isso significa 15,4 mil carretas a mais no porto. Duas mil carretas enfileiradas, que é o suficiente para encher um navio, já formam uma fila de cerca de 66 quilômetros", afirmou Mendes.
Não são só os grãos que abarrotam os portos brasileiros. Estima-se que ainda tenham de ser embarcadas 1,2 milhão de toneladas de açúcar da safra 2012/13, segundo a S.A. Commodities e Unimar Agenciamentos Marítimos. Desse total, 942 mil toneladas estão previstas para Santos. No mesmo período de 2012, o porto paulista tinha programadas 268 mil toneladas.
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